O comandante das forças militares dos Estados Unidos na América Latina se aposentou dois anos antes do fim do mandato. A saída ocorre em meio ao aumento das tensões entre Washington e Caracas, que incluem a apreensão de um navio petroleiro venezuelano e uma série de operações militares no Caribe.
O almirante Alvin Holsey, chefe do Comando Sul dos EUA (Southcom), deixou o cargo nesta sexta-feira (12). Segundo autoridades ouvidas pela Reuters, a decisão foi antecipada após pressões internas no Departamento de Defesa. A avaliação é de que o secretário de Defesa, Pete Hegseth, demonstrava insatisfação com a condução das operações na região.
Holsey havia anunciado em outubro que se aposentaria em dezembro, mas não explicou publicamente os motivos da saída antecipada. Em sua cerimônia de despedida, realizada na sede do Southcom, em Miami, ele fez um discurso conciliador. Destacou a importância de os Estados Unidos seguirem ao lado de países que compartilham valores democráticos, o respeito ao Estado de Direito e aos direitos humanos.
Nos bastidores, porém, integrantes do governo apontam um contexto mais delicado. De acordo com relatos de autoridades americanas, Hegseth vinha pressionando o comando militar a ampliar a atuação operacional e o planejamento estratégico na América Latina. Esse movimento ocorre em um momento de endurecimento da política externa do governo Trump na região.
Tensões regionais e mudança de estratégia
A saída de Holsey acontece enquanto os Estados Unidos intensificam sua presença militar no Caribe. Nos últimos meses, o país realizou mais de 20 ataques contra embarcações suspeitas de tráfico de drogas. Além disso, nesta semana, a Guarda Costeira apreendeu um petroleiro com petróleo venezuelano, ação considerada inédita desde a imposição de sanções em 2019.
Embora alguns assessores tenham especulado que Holsey era contrário a parte dessas operações, o próprio almirante negou essa relação. Em uma reunião fechada com parlamentares, afirmou que sua decisão não teve ligação com os ataques recentes, segundo relato divulgado pela imprensa americana.
Com a aposentadoria, o comando do Southcom foi assumido interinamente pelo general da Força Aérea Evan Pettus, que era o número dois da estrutura. A expectativa, de acordo com fontes próximas à Casa Branca, é que o presidente Donald Trump indique o tenente-general Frank Donovan como sucessor definitivo. A nomeação ainda depende de confirmação do Senado.
A troca ocorre em meio a uma reorientação explícita da política externa americana. Um documento estratégico divulgado nesta semana defende a retomada da chamada Doutrina Monroe, formulada no século 19, que define o hemisfério ocidental como área de influência direta dos Estados Unidos.
Esse reposicionamento também se reflete no aumento da pressão sobre o presidente venezuelano Nicolás Maduro. Washington acusa o governo venezuelano de envolvimento com o narcotráfico, o que Maduro nega. Segundo ele, a presença militar americana tem como objetivo derrubar seu governo e controlar as reservas de petróleo do país.
A aposentadoria antecipada de Holsey se soma a uma sequência de saídas no alto comando militar desde que Hegseth assumiu o Pentágono. Entre elas estão a do chefe do Estado-Maior Conjunto e da principal autoridade da Marinha, indicando um período de forte reorganização interna nas Forças Armadas dos EUA.
