Aliados do presidente Donald Trump rejeitaram a proposta do governo brasileiro para que o país atuasse como mediador na crise entre os Estados Unidos e a Venezuela. A ideia foi apresentada por Luiz Inácio Lula da Silva durante viagem à Malásia, no domingo (26). Segundo fontes do Departamento de Estado, o plano não agradou porque a política americana atual não abre espaço para negociações.
De acordo com interlocutores próximos ao secretário de Estado, Marco Rubio, o grupo mais próximo de Trump defende uma postura firme e combativa contra o regime de Nicolás Maduro. Até o mês passado, Washington mantinha conversas com Caracas. Contudo, Trump determinou a suspensão imediata do diálogo, o que elevou as tensões na América Latina.
Brasil perde espaço como interlocutor
Para conselheiros do republicano, o Brasil não é o mediador ideal nesse momento. Eles afirmam que o governo Lula é visto como mais simpático a Maduro, enquanto os Estados Unidos buscam promover uma mudança de regime na Venezuela. Além disso, segundo informações divulgadas por veículos americanos, a CIA teria recebido autorização para realizar operações com essa finalidade.
Durante o encontro em Kuala Lumpur, Trump reagiu com surpresa à tentativa de Lula de abordar o tema. “Eu não acho que vamos discutir Venezuela. Eles não estão envolvidos em Venezuela. Se quiserem, podemos discutir, mas não acho que vamos”, afirmou o americano, segundo relatos de jornalistas. Ainda assim, Lula já havia antecipado o assunto em uma ligação telefônica de 30 minutos no início do mês.
Nessa conversa, o presidente brasileiro defendeu uma saída diplomática e pacífica para o impasse. Ao mesmo tempo, admitiu não manter contato direto com Maduro desde as últimas eleições venezuelanas, marcadas por denúncias de fraude. Ele também disse que cobrou a divulgação das atas eleitorais, nunca apresentadas pelo regime.
Após a reunião na Malásia, o chanceler Mauro Vieira afirmou que Lula reforçou o papel do Brasil como defensor da paz. “O presidente destacou que a América do Sul é uma região de paz e se colocou à disposição para atuar como interlocutor com a Venezuela”, declarou o ministro.
Escalada militar e impasse diplomático
Enquanto o governo brasileiro insiste no diálogo, os Estados Unidos intensificam as ações militares. Nesta terça-feira (28), o secretário de Defesa, Pete Hegseth, anunciou que as Forças Armadas americanas destruíram quatro embarcações no oceano Pacífico. Segundo ele, os alvos seriam narcotraficantes ligados ao regime de Maduro.
Os ataques ocorreram na segunda-feira (27) e resultaram em 14 mortos, com apenas uma sobrevivente. De acordo com Hegseth, os bombardeios foram realizados em águas internacionais para impedir a entrada de drogas nos Estados Unidos.
Entretanto, especialistas e governos latino-americanos afirmam que não há provas de que as embarcações tinham ligação com o narcotráfico. Dessa forma, a justificativa americana é vista como frágil e contrária ao direito internacional.
Por conseguinte, cresce a percepção de que os Estados Unidos retomaram uma postura unilateral na região, ignorando propostas de mediação e afastando possibilidades de diálogo.
