Profissionais do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) de Cuiabá relatam que as queixas mais comuns incluem falta de ar, tosse e desidratação na região do Pantanal. Vanessa Truká, enfermeira do Dsei, informou que as comunidades estão recebendo suporte com equipamentos de proteção individual (EPIs), máscaras e hidratação. No entanto, muitos indígenas necessitam de encaminhamento médico devido à exposição prolongada à fumaça.
“Os casos ocorrem especialmente entre aqueles na linha de frente, combatendo o fogo”, afirmou.
Queimadas atingem terras indígenas
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, ainda não há números consolidados de atendimentos. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicam que 30 terras indígenas (TIs) foram afetadas na última semana. Entre 6 e 13 de agosto, foram registrados 2.011 focos de calor no estado, o que fez com que Mato Grosso concentrasse 17,5% das queimadas no país.
A Federação dos Povos e Organizações Indígenas de Mato Grosso (Fepoimt) emitiu uma nota pedindo esforços conjuntos dos municípios e dos governos estadual e federal para conter as queimadas e apoiar as comunidades mais afetadas. O fogo já atingiu casas dentro das aldeias e está comprometendo nascentes de rios, lagos, vegetação, animais e roçados. Comunidades como Guató, Umutina e Perigara, situadas na região pantaneira entre Barão de Melgaço e Poconé, estão entre as mais afetadas.
Eliane Xunakalo, presidente da Fepoimt, destacou a gravidade da situação: “Estamos inalando muita fumaça, o que está causando problemas respiratórios, como tosses constantes. Os indígenas perigaras estão pedindo socorro há 15 dias, enquanto nas terras Guató, o fogo já chegou. Essas áreas são remotas e de difícil acesso.”
O pneumologista Clóvis Botelho, da Universidade Federal de Mato Grosso, explicou que a poluição do ar, combinada com a baixa umidade, aumenta os danos nas vias respiratórias. “Essa situação aumenta a incidência de traqueobronquites, bronquites e bronquiolites, que podem evoluir para quadros mais graves, como pneumonias”, disse.
Apoio e desafios no combate às chamas
Comunidades indígenas, como a aldeia Perigara, enfrentam os desafios de combater os incêndios com poucos recursos. Roberto Maridoprado, cacique da aldeia, relata que a equipe de brigada voluntária sente fortemente os efeitos da fumaça, como falta de ar e tosse.
Ele faz parte de uma das seis brigadas voluntárias formadas por indígenas em Mato Grosso, no Pantanal, treinadas pelo Prevfogo. Apesar de sua agilidade e conhecimento do território, essas brigadas carecem de investimento adequado.
A Fepoimt solicitou o aumento do número de brigadas e a provisão de equipamentos adequados. Em resposta, o governo de Mato Grosso afirmou que o Corpo de Bombeiros Militar está preparado para combater os incêndios na TI Perigara, mas aguarda autorização da Funai. A Funai, por sua vez, afirmou que atua em conjunto com outros órgãos no combate aos incêndios desde 3 de agosto e que não há restrições para a entrada de agentes públicos em terras indígenas em situações de emergência.
Até o momento, o Ministério dos Povos Indígenas não comentou os casos.