Acordo UE-Mercosul pode avançar nesta semana e reacende expectativa no agro brasileiro

Photo of author

By LatAm Reports Redatores da Equipe

Depois de mais de duas décadas de negociações, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia voltou ao centro do debate e pode dar um passo decisivo nos próximos dias. A expectativa do governo brasileiro é que a assinatura aconteça durante a Cúpula do Mercosul, marcada para sábado (20), em Foz do Iguaçu. Antes disso, porém, a União Europeia ainda precisa concluir seus próprios trâmites internos.

Autoridades europeias indicaram que a votação pode ocorrer nesta semana, o que abriria caminho para a assinatura formal do texto. O tema ganhou urgência porque envolve interesses estratégicos dos dois blocos, especialmente em um cenário global de disputas comerciais e revisão de tarifas.

Salvaguardas colocam o agro em alerta

Um dos pontos mais sensíveis do acordo será analisado na terça-feira (16), quando o Parlamento Europeu vota as chamadas salvaguardas para proteger produtores locais. Essas regras permitem que a União Europeia suspenda benefícios tarifários concedidos ao Mercosul caso entenda que algum setor agrícola europeu esteja sendo prejudicado.

Para o agro brasileiro, o mecanismo gera preocupação. A avaliação é de que ele pode limitar exportações justamente em um acordo que se propõe a ampliar o livre comércio. Representantes do setor afirmam que as salvaguardas foram discutidas internamente na UE, sem consulta prévia aos países do Mercosul.

Mesmo assim, o Brasil segue como um dos principais interessados no avanço do tratado. O bloco europeu já é o segundo maior destino das exportações do agro brasileiro, atrás apenas da China.

Carnes, café e oportunidades

Se aprovado, o acordo deve reduzir ou eliminar tarifas sobre grande parte dos produtos agropecuários exportados pelo Mercosul à União Europeia. Carnes bovina e de frango entram como itens sensíveis, com cotas específicas, mas ainda assim com potencial de expansão.

No caso do café, o impacto pode ser ainda mais direto. Enquanto o grão já entra sem tarifa na Europa, produtos industrializados, como o café solúvel, hoje enfrentam taxas que tendem a ser eliminadas gradualmente. Isso pode aumentar a competitividade do produto brasileiro frente a concorrentes asiáticos.

Já a soja não deve sentir efeitos relevantes, pois o produto já conta com tarifa zero no mercado europeu há anos.

Um acordo estratégico em ano de incertezas

O possível avanço do acordo ocorre em um momento delicado para o comércio internacional. As exportações do agro brasileiro para os Estados Unidos sofreram retração após medidas tarifárias recentes, o que reforçou a importância de diversificar mercados.

Para a União Europeia, o tratado também tem peso estratégico. Além de ampliar exportações industriais, o bloco busca reduzir a dependência da China em áreas como minerais e insumos estratégicos.

As negociações, iniciadas em 1999, atravessaram impasses políticos, ambientais e comerciais ao longo dos anos. Agora, com o texto finalizado desde o fim de 2024, o desafio é político: conseguir apoio suficiente entre os países europeus para que o acordo, finalmente, saia do papel.