A cratera esquecida: Domo de Araguainha revela o descaso com um tesouro geológico sul-americano

No coração do Brasil Central, entre Mato Grosso e Goiás, repousa uma das marcas mais antigas da história geológica do planeta: o Domo de Araguainha. Essa cratera impressionante, formada pelo impacto de um asteroide há aproximadamente 245 milhões de anos, é a maior da América do Sul e se estende por cerca de 1.300 km² – uma área superior à da cidade do Rio de Janeiro. No entanto, apesar de seu valor científico e potencial turístico, o local enfrenta uma dura realidade: o abandono.

Situada em parte nos municípios de Ponte Branca, Araguainha e Alto Araguaia (MT), e nos territórios goianos de Doverlândia, Mineiros e Santa Rita do Araguaia, a cratera guarda estruturas raras como brechas de impacto, dobras e falhas. Descoberta oficialmente na década de 1970, sua importância foi reconhecida pela Unesco em 2022 como um dos principais geossítios do mundo. Contudo, problemas são evidentes.

Atualmente, visitantes se deparam com mata alta, falta de sinalização e ossadas de animais espalhadas. Por conseguinte, o local transmite uma sensação de abandono e negligência. Pesquisadores e moradores relatam que, embora o potencial para transformação em parque geológico seja enorme, as autoridades não tomaram providências concretas.

Em 2024, o Ministério Público Federal requisitou ao governo estudos para criar um geoparque no Domo. Os levantamentos, sob responsabilidade do Serviço Geológico do Brasil (SGB), devem ser concluídos até julho de 2025. Ainda que especialistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) colaborem informalmente, nenhuma medida efetiva foi implementada.

Segundo os cientistas, a situação é crítica no centro da cratera. O local, atravessado pela rodovia MT-100, perdeu parte de seus afloramentos rochosos devido à construção da via, sem que houvesse qualquer tipo de preservação ou registro dos danos causados.

A falta de sinalização também é notória: não existem placas ou materiais educativos sobre a região.

Apesar disso, a proposta de criação de um parque geológico ainda está em curso. A região possui 15 geossítios com potencial turístico e educativo. Entre eles, estão trilhas, cachoeiras, cavernas e formações rochosas que testemunham o impacto do asteroide. Destaque para o Colar de Arenito, o Morro da Antena e os cones de impacto conhecidos como “Shatter Cones”.

Com efeito, transformar o Domo de Araguainha em geoparque poderia impulsionar a economia local, fomentar pesquisas e garantir a preservação do patrimônio. Entretanto, enquanto o projeto não sai do papel, o que se vê é um dos maiores registros de um cataclismo planetário sendo lentamente engolido pela indiferença.