A Polícia Federal revelou um esquema de manipulação de resultados envolvendo o Patrocinense, time mineiro que disputou a Série D do Campeonato Brasileiro de 2024. Mensagens interceptadas indicam que um grupo de apostadores investiu cerca de R$ 250 mil para garantir que o clube entregasse resultados favoráveis às apostas. No entanto, a operação gerou prejuízos aos fraudadores e levantou suspeitas de que jogadores aliciados poderiam ter traído o esquema.
Como funcionava o esquema
De acordo com o relatório da PF, o esquema tinha como foco o jogo entre Inter de Limeira e Patrocinense, realizado em junho, durante a primeira fase da Série D. Os apostadores sabiam previamente que o Patrocinense perderia o primeiro tempo por ao menos dois gols de diferença, o que de fato aconteceu: o jogo terminou 3 a 0 para a Inter de Limeira, com todos os gols marcados no primeiro tempo.
Os responsáveis pela fraude incluíam o gestor do clube, Anderson Ibrahim Rocha, o técnico Estevam Soares, jogadores e outros envolvidos, que foram indiciados por participação no esquema.
Em situação financeira precária, o Patrocinense havia desistido do Campeonato Mineiro, mas garantiu vaga na Série D. Sem estrutura ou elenco, o clube fechou parceria com a empresa AIR Golden, que prometeu investir R$ 600 mil para a fase de grupos, com um adicional de R$ 200 mil caso o time avançasse.
No entanto, a investigação aponta que o clube foi arrendado com o objetivo de manipular partidas. Conversas extraídas de celulares mostram que o plano inicial era atrair investidores internacionais e aliciar jogadores para resultados pré-determinados.
O jogo que expôs o esquema
A manipulação no duelo contra a Inter de Limeira chamou atenção devido aos eventos em campo. Um dos gols foi marcado contra pelo jogador Richard Sant Clair, que teria sido escalado a pedido do gestor Anderson Rocha. Em mensagens, o técnico Estevam Soares expressou preocupação com os rumores de manipulação e desabafou sobre a situação com amigos e conselheiros.
Após o jogo, a parceria entre o Patrocinense e a AIR Golden foi encerrada, e o clube terminou a competição na lanterna do grupo.
Os manipuladores enfrentaram prejuízos, já que os resultados não renderam os lucros esperados. Mensagens trocadas entre os envolvidos mostram desentendimentos e suspeitas de que jogadores aliciados não cumpriram o acordo. Anderson Rocha, por exemplo, relatou que nem ele nem outros participantes receberam os valores prometidos pelos apostadores.
Investigação e consequências
A PF indiciou seis pessoas, incluindo o gestor Anderson Rocha e o técnico Estevam Soares. Estevam negou envolvimento no esquema e, em depoimento, afirmou que não sabia das intenções do gestor. O caso levanta questões sobre a fragilidade de clubes menores e os riscos de manipulação em competições esportivas, especialmente em categorias com menor visibilidade.
O episódio destaca a necessidade de maior fiscalização para proteger a integridade do esporte e combater fraudes no mercado de apostas, que têm gerado preocupação crescente no futebol brasileiro.