Uma investigação da Polícia Federal (PF) revelou detalhes de uma suposta conspiração golpista envolvendo militares de alta patente, políticos e agentes de segurança pública após o segundo turno das eleições de 2022. Áudios inéditos, obtidos com exclusividade pelo Fantástico, expõem conversas que indicam um plano para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin, além de ameaças contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Áudios revelados
O general da reserva Mário Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, foi apontado como um dos principais articuladores do plano, que incluía ações como o assassinato das lideranças mencionadas e a tentativa de um golpe de Estado. Em um dos áudios, Fernandes aparece exaltado:
“Qualquer solução, caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, sem quebrar cristais”.
Outros áudios mostram militares clamando por ações mais contundentes, baseando-se em acusações infundadas de fraude eleitoral:
“Tá na cara que houve fraude. Tá na cara. Não dá mais pra gente aguardar essa p…”.
Comunicação com acampamentos e Bolsonaro
A PF também aponta que os acampamentos em frente a quartéis, realizados após as eleições de 2022, foram coordenados por militares. Em um áudio, Fernandes afirma:
“Talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer: o clamor popular, como foi em 64. Nem que seja pra inflamar a massa”.
Os áudios indicam que o general Mário Fernandes esteve em contato direto com o então presidente Jair Bolsonaro para discutir a diplomação de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro. Tudo. Mas aí na hora: pô, presidente. A gente já perdeu tantas oportunidades”.
Informações privilegiadas
A investigação também apontou que o agente da Polícia Federal Wladimir Matos forneceu dados estratégicos ao grupo golpista, incluindo informações sobre a equipe de segurança e a localização de Lula.
O relatório final da PF, concluído em 21 de novembro, resultou no indiciamento de 37 pessoas, incluindo:
- Jair Bolsonaro, ex-presidente;
- Walter Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice-presidente em 2022;
- Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça;
- Valdemar Costa Neto, presidente do PL;
- Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Repercussões
Entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) condenaram os atos planejados, classificando-os como graves ameaças ao Estado Democrático de Direito.
A investigação segue em curso, enquanto os acusados terão de responder às denúncias nos âmbitos político e jurídico. O caso reflete uma das maiores investigações sobre ameaças à democracia brasileira nos últimos anos.