Em outubro de 1968, um vigia noturno relatou ter enfrentado três alienígenas em combate corporal, munido apenas de um cano. Após ser agredido, ainda ouviu um dos extraterrestres, que se preparava para partir em uma nave azul-clara, insultá-lo: “Vá embora, seu vagabundo”. Esse é apenas um dos muitos relatos registrados pelo Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani), criado pela Força Aérea Brasileira para estudar aparições misteriosas nos céus do país.
O Sioani funcionou de 1969 a 1972 e deixou um vasto acervo de documentos, hoje preservado no Arquivo Nacional. A análise desse material, que abrange registros de 1952 até hoje, revela como os objetos voadores não identificados (OVNIs) se tornaram uma preocupação de segurança nacional. Novos lotes de documentos, incluindo registros de 2023, continuam a ser enviados para o Arquivo Nacional.
A era das investigações e relatos curiosos
Os documentos incluem fotos, conversas entre pilotos, histórias de encontros hostis e testemunhos de civis, como o de uma funcionária de sanatório que disse ter oferecido água a um ET e recebido um agradecimento em uma língua “interplanetária”: “Umbaúra”, supostamente dito três vezes. Esses relatos não comprovam a existência de vida inteligente em outros planetas, mas fornecem uma visão de como o tema era tratado pela sociedade e pelo meio militar.
O interesse militar em OVNIs cresceu a partir de 1947, com a consolidação do tema na imprensa e a corrida tecnológica entre EUA e União Soviética. Inicialmente, os objetos eram vistos como invenções tecnológicas avançadas, talvez originárias de experimentos militares secretos. Porém, a hipótese extraterrestre logo se firmou no imaginário brasileiro. A coleta de relatos e investigações tornou-se uma política de Estado, visando centralizar registros que antes estavam dispersos.
Casos marcantes e operações oficiais
Entre os casos mais notórios está a Operação Prato, realizada em 1977, após relatos de ataques no Pará e Maranhão, onde vítimas alegaram ter tido sangue sugado por luzes emitidas por “criaturas” noturnas. O relato de Colares (PA), documentado por militares, descreve como a população acendia fogueiras e fazia procissões noturnas para afastar as luzes que deixavam as pessoas “inertes, trêmulas e sem voz”.
O pesquisador João Francisco Schramm, da Universidade de Brasília (UnB), destaca que a existência desses documentos não significa que os militares acreditavam em vida extraterrestre, mas sim que tratavam os OVNIs como objetos desconhecidos que não puderam ser identificados. “Devemos levar a sério o termo ‘não identificado’”, afirma Carlos Orsi, coautor do livro ‘Que Bobagem! – Pseudociências e Outros Absurdos’, reforçando que, embora a ciência considere provável a existência de vida fora da Terra, a ideia de visitas inteligentes à Terra ainda está além das possibilidades conhecidas.
Matéria inspirada em reportagem de Folha de S.Paulo