O Comitê Olímpico Internacional (COI) está acompanhando de perto o caso das duas pugilistas acusadas de competir indevidamente nos Jogos Olímpicos por não atenderem aos critérios de gênero estabelecidos pela federação internacional de boxe. A entidade condenou a “guerra cultural” em torno do caso.
Polêmica internacional
O caso ganhou repercussão mundial após a lutadora argelina Imane Khelif derrotar a italiana Angela Carini em combate realizado na quinta-feira, 1. Desde então, Khelif tem sido alvo de ataques nas redes sociais.
“Estamos em contato, desde ontem, em termos de proteção”, disse Mark Adams, diretor de comunicação do COI, à Folha, sem especificar como essa proteção está sendo implementada. “É um caso bastante sério”, continuou. “Há muito abuso online, e abuso muito desinformado. Estamos em contato próximo com os atletas e suas equipes.”
Adams mencionou que, após os Jogos de Paris, é provável que ocorra um debate sobre a adoção de uma norma geral para os critérios de gênero nos esportes olímpicos, embora não tenha fornecido detalhes sobre essas futuras normas. “Se um dia houver um consenso, seremos os primeiros a aplicá-lo.”
Critérios de competição e ataques pessoais
Imane Khelif e a taiwanesa Lin Yu-ting foram banidas em 2023 pela Associação Internacional de Boxe (IBA) após “testes de laboratório” para avaliar o gênero de ambas. No entanto, o COI não reconhece a autoridade da IBA e decidiu organizar o torneio olímpico de boxe independentemente, adotando como critério o gênero registrado no passaporte das atletas, que é feminino.
A decisão do COI gerou críticas de personalidades como a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, o senador brasileiro Sergio Moro, a escritora britânica J.K. Rowling e o bilionário sul-africano Elon Musk, que alegaram que o COI permitiu que “homens” enfrentassem mulheres no boxe olímpico. O COI reafirmou que Khelif não é homem nem trans.
“A boxeadora argelina nasceu mulher, foi registrada como mulher, viveu sua vida como mulher, lutou boxe como mulher, tem registro de mulher no passaporte. Não é um caso de transgênero. Cientificamente, não é um homem lutando contra mulheres”, reiterou Mark Adams.
Próximas lutas e defesa da atleta
Lin Yu-ting estreia nesta sexta-feira (2) no torneio olímpico, categoria 57 kg, contra a uzbeque Sitora Turdibekova, às 15h30 de Paris (10h30 de Brasília). Khelif enfrenta a húngara Anna Luca Hamori no sábado, 3, pelas quartas de final da categoria 66 kg.
Angela Carini, após a luta, justificou sua desistência afirmando:
“Não podia continuar. Meu nariz doía muito e eu disse: ‘Parem’. Era melhor não continuar”, explicou. “Sempre lutei contra homens, treino com meu irmão, mas hoje senti muita dor”, acrescentou Carini sobre a potência dos golpes recebidos.
Repercussão na Argélia
Nesta quinta-feira, Khelif foi recebida no Paris Arena Norte com aplausos de muitos fãs da Argélia, que agitavam suas bandeiras nacionais. Horas antes, o Comitê Olímpico Argelino (COA) defendeu sua boxeadora, garantindo que ela é vítima de “mentiras” e “ataques antiéticos”.