O barulho das rodas dos skates em superfícies duras já foi sinônimo de marginalidade nos espaços urbanos. Essa era a percepção do skate no Brasil quando o esporte chegou ao Rio de Janeiro no final da década de 1960.
A Confederação Brasileira de Skate (CBSK) informa que o esporte, na época chamado de “surfinho”, foi inspirado no surfe. Brasileiros que viajavam para a Califórnia trouxeram de volta a ideia de manobras em terra. Os primeiros skates no Rio foram feitos com eixos e rodas de patins, utilizando qualquer madeira disponível, refletindo a mesma improvisação que caracterizava os skatistas.
Skate nas Olimpíadas
Hoje, em 2024, o skate conquistou as ruas de Paris, com o Brasil enviando 24 atletas para as Olimpíadas. É irônico que o país com o maior contingente de skatistas nos Jogos Olímpicos de Paris de 2024 tenha, um dia, proibido o esporte.
O historiador Leonardo Brandão, da Universidade Regional de Blumenau, explora esse passado em seu artigo “De Jânio Quadros a Luiza Erundina: Uma história da proibição e do incentivo ao skate na cidade de São Paulo.”
Em 19 de maio de 1988, o prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, decretou a proibição irrevogável da atividade no Parque Ibirapuera, que era um ponto de encontro central para jovens skatistas.
A resistência surgiu rapidamente. Em 23 de junho de 1988, skatistas marcharam da Estação Paraíso do Metrô até o Ibirapuera com uma petição de mais de 6.000 assinaturas, solicitando uma área para praticar skate. A polícia, sob ordens de Quadros, interrompeu a marcha antes que chegasse à Câmara Municipal.
Na década de 1980, skatistas alinhados com o movimento punk eram vistos como transgressores naturais que precisavam ser controlados. No dia seguinte ao protesto, Quadros baniu o skate nas ruas de São Paulo e assinou uma lei que determinava que qualquer pessoa flagrada praticando a atividade teria seu skate confiscado pelas autoridades.
Essa lei não durou muito. Em novembro de 1988, Luiza Erundina, então do Partido dos Trabalhadores, venceu a eleição para prefeita e, dentro de dois meses, revogou a proibição, propondo a criação de trilhas para skatistas, conquistando a gratidão dos entusiastas do “surfinho”.
O skate, antes visto como um instrumento de juventude sem lei, começou a ganhar respeito e reconhecimento, evidenciado pela sua inclusão nas Olimpíadas de Tóquio em 2021. Uma pesquisa do Datafolha de 2015 revela mudanças no esporte, com adolescentes e mulheres sendo os grupos mais significativos.
Grandes ícones brasileiros de skateboard
Ícones brasileiros como Rayssa Leal e Kelvin Hoefler surgiram desde então. Leal, a medalhista mais jovem da história olímpica, conquistou a prata em Tóquio 2021 e o bronze em Paris 2024. O barulho das rodas dos skates em superfícies duras agora sinaliza novas conquistas para o esporte brasileiro.
Artigo traduzido de Brazilian Report