O principal opositor de Nicolás Maduro nas eleições venezuelanas, Edmundo González Urrutia, comentou nesta quarta-feira (24) sobre a recente troca de farpas entre o presidente brasileiro Lula e o presidente venezuelano. González, em entrevista exclusiva ao blog, afirmou que o governo de Maduro “tem a pele sensível” e não age de forma democrática quando criticado.
➡️ ENTENDA O CONTEXTO:
Esta semana, Lula e Maduro trocaram críticas. Lula expressou estar “assustado” com a declaração de Maduro sobre um possível “banho de sangue” caso ele perca as eleições. Em resposta, Maduro sugeriu que quem se assustou deveria tomar um chá de camomila. Lula também pediu que o resultado das eleições venezuelanas seja respeitado, enquanto Maduro afirmou, erroneamente, que o processo eleitoral no Brasil não é auditado.
Críticas de González ao Governo Maduro
González destacou a reação de Maduro como inadequada para uma sociedade democrática: “Lula tem sido um aliado do governo por muito tempo, o governo sabe disso e o tratou como um aliado quase incondicional. Agora, este é um governo que tem ‘a pele’ muito sensível e, quando fazem alguma crítica, reage com circunstâncias como estas. Quando diz algo que não gostam, [aí] já não é mais o aliado de sempre. Por isso, tem essas reações que não são próprias de uma sociedade democrática.”
Expectativas para a eleição e transição de governo
As eleições venezuelanas estão marcadas para o próximo domingo, 28, e o vencedor só assumirá o governo em 10 de janeiro. Questionado sobre o longo período de transição, González expressou a esperança de uma troca de governo mais rápida, diante de uma possível vitória esmagadora:
“Nós acreditamos que, diante de uma situação eleitoral que se possa apresentar no domingo, com uma vitória esmagadora da nossa candidatura, novas situações políticas se abrirão. As realidades políticas do governo se verão obrigadas a mudar de atitude e iniciar um processo de conversações que podem até apontar para uma redução desse intervalo.”
Expectativa por um desfecho pacífico
Apesar da declaração de Maduro sobre um possível “banho de sangue” caso ele perca, González acredita em uma transição pacífica:
“Confiamos que possa ser feita uma transição com normalidade, sem violência, como costuma acontecer em situações como esta em qualquer sociedade democrática.”
Comentando sobre o desconvite de observadores internacionais europeus por Maduro, González interpretou o ato como sinal de desespero e nervosismo diante da possibilidade real de perder as eleições: “É um sinal de desespero e de nervosismo que há no governo diante da real possibilidade de perderem as eleições.”
Desafios econômicos e plano para o Futuro
González enfatizou a necessidade de recuperação econômica e valorização da moeda nacional, o bolívar, como um dos principais desafios de um eventual governo:
“Temos uma economia que está no chão. Precisamos recuperar o poder aquisitivo da moeda e alcançar uma taxa de câmbio que esteja em sintonia com a nova realidade econômica do país.”
O candidato também destacou a importância de facilitar o retorno dos venezuelanos que deixaram o país: “Nós vamos oferecer um governo que vai facilitar o retorno de todos aqueles venezuelanos que desejam se reencontrar com o país, para que o país possa se beneficiar das experiências que adquiriram no exterior e que possamos aproveitar essas experiências no processo de recuperação econômica.”
Solução para o impasse sobre Essequibo
Sobre o território disputado de Essequibo, González afirmou que seguirá o Acordo de Genebra de 1966:
“Essa reivindicação é histórica e nós temos um plano para resolvê-la no âmbito do Acordo de Genebra de 1966.”
González, um diplomata de carreira, foi escolhido pela oposição venezuelana após a principal candidata, Maria Corina Machado, e Corina Yoris, terem sido impedidas de concorrer. Com uma campanha de apenas três meses, um dos desafios do candidato é ganhar reconhecimento entre os eleitores. Ele foi elogiado pelo líder da oposição, José Guerra, por seu amplo conhecimento de questões internacionais, econômicas e políticas.
A oposição acusa o governo de Maduro de impor barreiras a candidaturas oposicionistas, acusação que o governo nega.