O rastreamento bovino por chips se apresenta como uma solução inovadora para garantir a origem sustentável da carne produzida na Amazônia. Este mecanismo tecnológico visa a enfrentar um dos maiores desafios da pecuária na região: o desmatamento ilegal. No Pará, por exemplo, produtores estão recorrendo a essa inovação para assegurar que a carne produzida não esteja vinculada a práticas de desmatamento.
“Eu não quero construir um elefante branco. A minha vida está no Pará. Tudo o que eu investi está aqui. E eu comecei a pensar que, daqui a pouco, eu posso ficar excluído e ninguém mais querer comprar carne da Amazônia”, relata Roberto Paulinelli, pecuarista e dono do Frigorífico Rio Maria.
Como funciona o rastreamento
O g1 visitou a fazenda de Paulinelli para entender o funcionamento do sistema de identificação por chips. Este projeto-piloto foi criado pela empresa de geotecnologia Niceplanet em parceria com a certificadora SBcert e abrange 150 fazendas e frigoríficos em quatro estados, incluindo Pará, Tocantins, Goiás e São Paulo. A ideia é monitorar não apenas os fornecedores diretos de carne, mas também os indiretos, que são as fazendas que criam e recriam os bois.
Desafios e implementação
Atualmente, o Brasil não possui uma política pública nacional para rastreamento de gado. Embora exista um acordo entre frigoríficos da Amazônia e o Ministério Público Federal para o monitoramento de fazendas, a adesão é voluntária. A maior parte das empresas verifica apenas seus fornecedores diretos, deixando uma lacuna na fiscalização dos fornecedores indiretos. É neste ponto que o uso de chips se destaca, permitindo um controle mais rigoroso e abrangente.
“Às vezes, o animal passa em quatro, cinco fazendas antes de chegar na propriedade que vai vender para o frigorífico. Então, a gente só está olhando para a última. A gente precisa olhar para as demais”, ressalta Daniel Azeredo, procurador da República.
O sistema SMGeo Indireto, desenvolvido pela Niceplanet, integra as numerações do Sisbov (Sistema Brasileiro de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos) aos dados ambientais, fundiários e trabalhistas das fazendas, seguindo o Protocolo Boi na Linha. Isso permite que os produtores verifiquem a conformidade socioambiental dos fornecedores antes de realizar a compra.
Benefícios e custos
O custo para implementar o sistema de rastreamento inclui a fabricação de brincos e chips, certificação, e a aquisição de bastões eletrônicos para leitura dos dados. Apesar dos custos, a tecnologia oferece vantagens significativas, como a minimização de erros na gestão dos rebanhos e a garantia de uma carne rastreável e livre de desmatamento.
Mauro Lúcio Costa, pecuarista no Pará, afirma que a rastreabilidade traz benefícios na gestão do negócio, permitindo ao criador identificar o tempo de engorda dos animais, a saúde do rebanho e a qualidade genética dos fornecedores.
Para que essa prática se torne acessível a todos os produtores, especialmente os pequenos, é necessária a criação de uma política pública nacional. Isso envolveria incentivos e estrutura adequada para os pecuaristas, facilitando a adesão ao sistema de rastreamento.
Perspectivas futuras
Durante a Conferência do Clima de 2023 em Dubai, o governador do Pará, Helder Barbalho, prometeu rastrear todos os 24 milhões de bois do estado até 2026. Esta iniciativa é vista como um passo importante para atender às exigências internacionais e garantir a sustentabilidade da cadeia produtiva bovina na Amazônia.
O rastreamento bovino com chips representa um avanço crucial na luta contra o desmatamento ilegal, promovendo uma produção de carne mais transparente e sustentável, alinhada com as exigências dos mercados globais.