Nesta terça-feira, 16, o programa Profissão Repórter acompanhou uma força-tarefa do Ministério do Trabalho e Emprego no Sul de Minas Gerais. A operação teve como objetivo apurar denúncias de trabalho análogo à escravidão em fazendas de café, resultando no resgate de 23 trabalhadores, incluindo um adolescente de 16 anos.
Em três fazendas, os auditores fiscais identificaram condições de trabalho degradantes, tráfico de pessoas e infrações previdenciárias devido à informalidade nas contratações. Os proprietários foram obrigados a pagar multas rescisórias que totalizaram aproximadamente R$ 100 mil. A maioria dos trabalhadores resgatados era oriunda da Bahia e do Norte de Minas.
Depoimentos revelam a realidade dos trabalhadores
Durante a fiscalização, diversos trabalhadores relataram suas condições de trabalho. Em uma das fazendas, um trabalhador de Caxias, no Maranhão, contou que teve a passagem paga pelo empregador, mas o valor seria descontado ao final da safra. Outros trabalhadores revelaram que estavam há meses sem receber salário e sem registro formal.
O empregador, Vagner Freire da Silva, justificou a informalidade alegando que a regularização complicaria sua situação como pequeno produtor. Além disso, alguns funcionários alegaram que eram impedidos de sair da fazenda para evitar fiscalização.
Trabalho infantil e falta de segurança
Em Juruaia, um jovem de 16 anos foi encontrado trabalhando sem equipamentos de proteção. Ele relatou que estava ali na esperança de, futuramente, conseguir um emprego digno e registrado. Este é o quarto ano que Wilton Ramos Pereira organiza um grupo de trabalhadores do norte de Minas para a colheita de café nessa fazenda.
Dois dos três proprietários das fazendas onde houve o resgate são associados da cooperativa de café Cooxupé. A cooperativa alegou não ter relações comerciais diretas com essas propriedades e destacou seu compromisso contra o trabalho infantil e forçado em toda a sua cadeia de fornecedores. Mesmo assim, os fazendeiros flagrados na operação foram bloqueados pela Cooxupé, e o adolescente foi encaminhado ao conselho tutelar.
Fiscais continuam a inspeção
Em Alfenas, apesar do proprietário ter afirmado que a colheita já havia terminado, os fiscais encontraram trabalhadores em outra área. Um dos trabalhadores relatou que veio sem saber quanto ganharia, mas sentiu a necessidade de deixar sua região de origem devido às condições difíceis. O produtor de café, Luís Carlos Moreira, admitiu que os trabalhadores foram contratados como diaristas, prática ilegal segundo a legislação trabalhista.
A operação evidenciou a persistência de práticas análogas à escravidão no setor cafeeiro do Sul de Minas Gerais. As autoridades seguem trabalhando para garantir que os direitos dos trabalhadores sejam respeitados e que os responsáveis por tais práticas sejam devidamente punidos.