Em setembro de 2022, duas jovens brasileiras foram dadas como desaparecidas, desencadeando uma busca desesperada de suas famílias e do FBI nos Estados Unidos. Elas estavam sob os cuidados da influenciadora de bem-estar Kat Torres. Recentemente, Torres foi condenada a oito anos de prisão por tráfico humano e escravidão de uma dessas mulheres, com acusações adicionais em relação à outra vítima.
A ascensão e queda de Kat Torres – Kat A Luz
A antiga modelo que frequentava festas com Leonardo DiCaprio. A influenciadora, que aproveitava de sua fama momentânea e estampava capas de revistas internacionais, usou sua influência para aliciar seguidoras, prometendo-lhes um futuro de sucesso. Ana, que se deparou com o perfil de Torres no Instagram em 2017, foi uma das muitas vítimas atraídas pela trajetória inspiradora de Torres, que alegava ter superado uma infância violenta e traumas profundos.
Ana, que não estava entre as mulheres desaparecidas, também sofreu sob o controle de Torres. Vulnerável após uma infância difícil e um relacionamento abusivo, ela aceitou trabalhar como assistente de Torres em Nova York, onde foi submetida a condições degradantes e trabalho não remunerado. Ana eventualmente conseguiu escapar, mas não sem antes perceber a gravidade das ações de Torres.
“Ela parecia ter superado a violência na infância, abusos, todas essas experiências traumáticas,” disse Ana ao BBC Eye Investigations e BBC News Brasil.
Uma rede de e-xploração e Abuso
A influenciadora ampliou sua rede de exploração, recrutando seguidoras dedicadas para trabalharem para ela, prometendo-lhes ajuda para alcançar seus sonhos. Desirrê Freitas e Letícia Maia, cujos desaparecimentos desencadearam uma busca liderada pelo FBI, foram duas das vítimas que se mudaram para viver com Torres e elas, juntamente com outras mulheres, foram submetidas a trabalho forçado e exploração sexual.
Freitas foi pressionada a trabalhar em um clube de strip-tease local e posteriormente forçada a se prostituir sob ameaças de maldições espirituais e denúncias às autoridades. As vítimas eram mantidas em isolamento, sujeitas a regras rígidas e forçadas a entregar todos os seus ganhos a Torres.
“Agora, vejo que ela estava me usando como escrava… ela tinha satisfação nisso”, relatou Ana.
Resgate e justiça
O aumento da atenção midiática e as campanhas nas redes sociais finalmente levaram à intervenção das autoridades. Em novembro de 2022, Torres e suas vítimas foram levadas para uma verificação de bem-estar em Maine, onde sinais de tráfico humano foram identificados. Após isso, em dezembro do mesmo ano, as mulheres foram devolvidas em segurança ao Brasil.
Em abril deste ano, a equipe da BBC conseguiu uma rara entrevista com Torres em uma prisão brasileira. Negando todas as acusações, Torres manteve sua inocência, apesar das evidências esmagadoras de seu envolvimento em tráfico humano e escravidão.
“Quando eu via as pessoas testemunhando, elas estavam dizendo tantas mentiras. Tantas mentiras que, em um ponto, eu não conseguia parar de rir”, afirmou Torres.
Kat foi recentemente condenada a oito anos de prisão por um juiz brasileiro, com mais de 20 mulheres relatando terem sido vítimas de suas ações. Atualmentea investigação sobre as acusações continua, e Ana espera que mais vítimas venham a público, reconhecendo a gravidade dos crimes cometidos por Torres.
Livro de Desirrê
Desirrê, em seu livro, reflete sobre sua experiência de exploração e esperança de que sua história sirva como um alerta. Ana, por sua vez, destaca a necessidade de reconhecer que as ações de Torres. Segundo ela, elas representam um crime grave e não apenas um “drama de Instagram”.
“Espero que minha história sirva como um aviso”, escreveu Desirrê.
Texto inspirado e traduzido de BBC News