Após sete cortes consecutivos na taxa básica de juros, a Selic, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) optou por interromper o ciclo de reduções nesta quarta-feira (19). Com isso, a Selic foi mantida em 10,50% ao ano (a.a.).
A decisão estava alinhada com as expectativas do mercado, mas indica uma perspectiva de juros mais elevados para 2024 em comparação ao início do ano. Em janeiro, previa-se que a Selic terminaria 2024 em 9% a.a. Agora, a maioria do mercado espera que a taxa permaneça em 10,50% a.a. até o final do ano, com novos cortes somente em 2025.
Com a manutenção dos juros já esperada pelos analistas, as atenções se voltaram para o comunicado divulgado após a decisão do Copom e para a votação dos diretores, tema que gerou polêmica na última reunião. Na reunião desta quarta-feira, todos os diretores votaram pela manutenção das taxas.
Motivos para a Interrupção dos Cortes de Juros
Economistas consultados pelo g1 apontam que o principal motivo para a pausa nos cortes da Selic foi a desancoragem das expectativas de inflação. Quando as expectativas de inflação se desancoram, significa que as projeções para o índice de preços estão distantes da meta do BC. Em 2024, a meta de inflação é de 3%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
“A desancoragem das expectativas de inflação aumentou consideravelmente na última semana”, afirma Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital. As últimas sinalizações dos diretores do Copom também indicam que esse foi o principal fator para a decisão.
No comunicado divulgado após a decisão, o colegiado mencionou que o ambiente externo continua adverso, com incertezas sobre quando o banco central dos EUA começará a cortar juros e sobre a velocidade da queda da inflação em diversos países.
Os diretores destacaram que os indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho brasileiro continuam fortes, o que pode pressionar a inflação. Entre os riscos de alta da inflação citados pelo Copom estão a persistência das pressões inflacionárias globais e a resiliência da inflação de serviços. Já os riscos de baixa incluem uma desaceleração global mais acentuada e impactos mais fortes do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global.
“O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária”, afirmou o colegiado.
Cenário Doméstico e Internacional
Especialistas destacam que o ambiente mais adverso no exterior, devido às incertezas sobre a política monetária dos EUA, continua a influenciar as decisões do BC. Na última reunião de política monetária, o Federal Reserve (Fed) manteve os juros entre 5,25% e 5,50% e afirmou que não prevê cortes até que a inflação esteja evoluindo de forma sustentável para 2%.
Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos, ressalta que o diagnóstico do Fed se tornou menos otimista ao longo do ano, justificando a manutenção dos juros elevados por mais tempo.
Deterioração do Ambiente Fiscal
Outro fator que influenciou a decisão do BC foi a deterioração do ambiente fiscal brasileiro. Entre os pontos citados estão a mudança da meta fiscal para 2025, a troca na presidência da Petrobras e dúvidas sobre a capacidade do governo em alcançar o equilíbrio fiscal.
Em abril, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou uma mudança na projeção fiscal do Brasil, com a nova previsão sendo de déficit zero para 2025, ao invés do superávit de 0,5% do PIB previsto anteriormente. Para o mercado, essa mudança indica mais espaço para gastos, mesmo com a dificuldade do governo em aumentar as receitas.
A “fritura” do ministro Haddad após derrotas recentes no Congresso também pesa no mercado financeiro, que questiona a capacidade do ministro de implementar a agenda econômica e alcançar o equilíbrio fiscal necessário.
Gardimam destaca a necessidade de uma estratégia fiscal que vá além do aumento de impostos, sinalizando a importância de cortes de gastos pelo governo.