Em uma entrevista realizada pela Folha de S.Paulo, o economista-chefe do banco Pine, Cristiano Oliveira, ofereceu uma análise detalhada sobre a atual situação econômica brasileira e os desafios enfrentados pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Oliveira destacou que os Estados Unidos se tornaram um fator de risco para os países emergentes, como o Brasil, e defendeu cortes de gastos para possibilitar a redução das taxas de juros no país, uma medida que, segundo ele, Lula deveria ter implementado no primeiro ano de seu mandato. Agora, com um governo enfraquecido, essa tarefa se torna ainda mais desafiadora.
Oliveira explicou que, no ano passado, as moedas de Brasil, México e Colômbia estavam entre as que mais se valorizaram. Contudo, em 2023, essas mesmas moedas estão entre as que apresentaram pior desempenho, devido a uma sequência de notícias negativas que afetaram a percepção dos investidores. A eleição de uma presidente de esquerda no México contribuiu para aumentar a incerteza e o risco percebido nos mercados financeiros, contaminando a percepção sobre o Brasil.
A falta de ações eficazes no campo fiscal durante o primeiro ano de governo também foi criticada por Oliveira. Ele observou que, embora o governo tenha conseguido aprovar a primeira parte da reforma tributária, melhorando a percepção de longo prazo, o arcabouço fiscal foi desfigurado em abril, abandonando-se a premissa de déficit zero para 2024. Essa situação foi agravada pela nomeação de dois diretores do Banco Central indicados pelo governo, gerando preocupações sobre uma possível aliança influenciando a definição da taxa de juros básica.
Além disso, o economista apontou a percepção de fraqueza do governo, evidenciada pela devolução de medidas provisórias e pela dificuldade de negociação com o Congresso. Para Oliveira, a fragilidade do governo acaba sendo associada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que se torna a figura mais exposta e, consequentemente, a mais afetada pela falta de credibilidade no mercado.
Contexto Global e Impacto no Brasil
A incerteza fiscal nos Estados Unidos também foi mencionada como um fator de preocupação global. Oliveira destacou que, ao contrário dos anos anteriores, a taxa de juros real nos EUA não é mais zero, mas está entre 2% e 2,5%, o que atrai investidores e drena recursos dos países emergentes. A expectativa de cortes na taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed) também gera incerteza, impactando as economias de todo o mundo.
No Brasil, Oliveira acredita que a taxa Selic não cairá para um dígito, como deseja o governo, antes do próximo ano. Ele prevê que o PIB brasileiro deve crescer entre 2% e 2,5% em 2024, apesar da tragédia no Rio Grande do Sul, que afetou a economia local. Segundo o economista, o crescimento do PIB nos próximos anos deve ser superior à média dos últimos 40 anos, com uma inflação global mais comportada, convergindo para uma taxa entre 3% e 3,5%.
Perspectivas Econômicas
Quanto à autonomia do Banco Central, Oliveira acredita que uma parte do governo já reconhece a importância da independência da instituição. Ele enfatizou que, para manter a popularidade e a estabilidade econômica, o governo deve ver o Banco Central como um aliado na luta contra a inflação.
Cristiano Oliveira possui uma formação acadêmica robusta, com graduação em Economia pela FEA-USP, mestrado em Economia pela FGV-SP e pós-graduações em Finanças, Agronegócios e Data Science. Com uma carreira de 24 anos no mercado financeiro, já atuou como economista e economista-chefe em diversas instituições renomadas, incluindo Itaú-Unibanco, J. Safra, Safra, Fibra e Pine.