A presença de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami continua a representar uma séria ameaça às comunidades locais, conforme demonstram os dados do sistema de alerta operado pelos próprios indígenas da região. Desde setembro de 2023, quando o sistema foi implementado por meio de uma parceria entre a Hutukara, Unicef e o Instituto Socioambiental (ISA), sete em cada dez denúncias registradas apontam invasões e exploração ilegal por garimpeiros.
O sistema, que funciona por meio de celulares com ou sem acesso à internet, registrou quase quatro denúncias por dia nos últimos nove meses. O aplicativo utilizado pelos indígenas é o ODK Collect, que permite o registro de alertas de maneira eficiente.
Durante esse período, foram contabilizadas 70 denúncias de riscos sanitários e ambientais, sendo 49 relacionadas à presença de garimpeiros. As demais denúncias envolviam incêndios e água contaminada (18%) e problemas de saúde como desnutrição e surtos de malária (12%).
A Terra Yanomami, maior território indígena do Brasil, está em emergência sanitária desde janeiro do ano passado, quando o governo federal iniciou diversas ações para combater o garimpo ilegal e fortalecer os serviços de saúde destinados aos indígenas.
O governo declarou que está promovendo “a maior operação de retirada de invasores de um território indígena já realizada no Brasil”, com a participação de 31 órgãos federais coordenados pela Casa de Governo, criada por determinação do presidente Lula.
Dez indígenas da comunidade Watoriki, na região do Demini, foram os primeiros a serem treinados para operar o sistema, com o objetivo de expandir o monitoramento para áreas como Baixo Catrimani, Missão Catrimani e Alto Catrimani, onde a presença de garimpeiros também é significativa.
Dário Kopenawa, vice-presidente da Hutukara e líder Yanomami, destacou a importância do projeto para apoiar as comunidades e denunciar invasões e problemas de saúde.
“Ainda estamos sofrendo, os garimpeiros continuam em nossas terras e seus aviões perturbam o nosso povo. Mas com o sistema de alertas, podemos comunicar às autoridades o que acontece no nosso território”, afirmou Kopenawa.
Antes da implementação do novo sistema, as denúncias eram feitas por meio de cartas, visitas presenciais ou mensagens de radiofonia, métodos aprimorados com a nova tecnologia. O monitoramento agora permite que as comunidades emitam notificações de maneira ordenada mediante um aplicativo de celular, melhorando a qualidade das informações recebidas e a resposta das autoridades.
O sistema disponibiliza formulários onde os indígenas podem anexar fotos, vídeos, áudios e coordenadas geográficas para relatar os alertas. Após a validação, esses alertas são exibidos em um painel acessível às autoridades e instituições parceiras. A ferramenta funciona offline e oferece opções nos idiomas yanomami, ye’kwana, sanoma e português.
A primeira fase do projeto, concluída em maio deste ano, incluiu um evento que reuniu líderes Yanomami e apoiadores da iniciativa. Financiado pela União Europeia através do Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária (ECHO), o objetivo do sistema de alertas é aumentar a resiliência e fortalecer a autonomia das comunidades indígenas, respeitando seu contexto e conhecimento tradicional.