Dívida pública global se aproxima de 100% do PIB e pressiona países como o Brasil

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By LatAm Reports Redatores da Equipe

A dívida pública global voltou a crescer com força e já se aproxima do equivalente a 100% do PIB mundial. A tendência preocupa economias desenvolvidas e emergentes, porque repete o movimento observado no pós-pandemia, quando governos elevaram gastos para enfrentar a crise sanitária. Agora, porém, o avanço ocorre sem um choque externo evidente e revela desequilíbrios fiscais persistentes.

Segundo o Instituto de Finanças Internacionais, o total da dívida chegou a 101,3 trilhões de dólares. Esse valor representa quase 98% do PIB mundial e mostra um aumento de 9% em apenas um ano. A trajetória é puxada por países que convivem com déficits elevados, como China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha e Japão.

A situação americana chama atenção porque a dívida federal pode alcançar 145% do PIB até 2050, mesmo com o status de porto seguro que ainda atrai investidores.

Os efeitos já são visíveis na estratégia de financiamento das economias. Muitos governos passaram a reduzir o prazo de seus títulos para pagar menos juros no curto prazo. Essa prática, porém, aumenta a exposição a mudanças repentinas no humor dos mercados. Além disso, o custo da dívida sobe quando investidores percebem risco maior, o que afeta principalmente países emergentes. O Brasil é um deles. O endividamento brasileiro cresceu mais de seis pontos percentuais desde o início do governo Lula e pode avançar nove até 2026, um movimento que preocupa analistas.

Pelos critérios do FMI, a dívida pública bruta do país alcançou 89% do PIB no segundo trimestre e ficou acima de outros emergentes. A metodologia brasileira, que exclui títulos mantidos pelo Banco Central, mostra 78,1%. Mesmo assim, ambas as medições reforçam o diagnóstico de desequilíbrio fiscal. O FMI avalia que déficits contínuos, envelhecimento populacional e aumento de gastos com saúde pressionam contas públicas pelo mundo. Políticas populistas também dificultam ajustes, o que amplia a dependência de endividamento para manter a atividade econômica.

Essa tendência não é nova

O endividamento global havia atingido 105% do PIB no auge da pandemia e depois recuou. Agora, porém, retomou a curva ascendente. O BIS, que reúne bancos centrais, já afirmou estar alarmado com a velocidade desse avanço. Em um cenário adverso, o FMI projeta que a dívida chegará a 117% do PIB mundial em 2027, nível próximo ao observado após a Segunda Guerra.

Especialistas afirmam que o risco para países como o Brasil é duplo. Juros altos se tornam necessários para atrair investidores e compensar a percepção de risco. Ao mesmo tempo, a deterioração fiscal limita a queda da taxa Selic. A avaliação de economistas do setor financeiro é que a política monetária só poderá ser mais branda quando houver sinais concretos de disciplina fiscal.

O debate se intensifica porque parte dos economistas argumenta que o Brasil deveria se preocupar menos com o tamanho da dívida, já que países ricos convivem com percentuais maiores.

Porém, críticos lembram que essas economias têm capacidade de aumentar impostos em emergências, além de taxas de poupança bem superiores às brasileiras. Sem uma base de financiamento sólida, países emergentes dependem mais da confiança dos investidores. E, quando ela se reduz, o custo da dívida sobe de forma imediata.

A discussão permanece aberta, mas o diagnóstico internacional é claro: a dívida pública global voltou a crescer e deve ultrapassar o nível do pós-pandemia. Para economias frágeis fiscalmente, o impacto tende a ser mais rápido e mais profundo.