A retirada das hashtags que exibiam adolescentes apresentadas como “casadas” marcou a primeira reação do TikTok após a reportagem do g1 revelar a circulação desse tipo de conteúdo. A plataforma removeu os termos diretamente citados, derrubou perfis e apagou vídeos. Mesmo assim, parte do material segue acessível, o que mostra que a mudança foi apenas parcial. A discussão, portanto, permanece aberta.
Variações continuam disponíveis
A plataforma bloqueou hashtags como #casadaaos13, #casadaaos14 e #casadaaos15. Antes do bloqueio, juntas, elas somavam centenas de vídeos com forte engajamento. Agora, ao buscá-las, surge apenas a mensagem de que nada foi encontrado. No entanto, variações continuam ativas, como #casadaaos14anos, que ainda retorna dezenas de publicações.
Também seguem disponíveis hashtags sobre idades menores, como #casadaaos11 e #casadaaos12. Enquanto isso, outros vídeos que utilizavam os termos seguem no ar, mesmo sem as legendas que antes os identificavam.
Especialistas afirmam que a medida foi importante, mas insuficiente. Eles explicam que a desindexação dificulta a descoberta dos vídeos, mas não impede que usuários os encontrem de outras formas. Isso acontece porque o TikTok removeu legendas e hashtags, porém manteve boa parte do conteúdo.
Para pesquisadores que acompanham o caso, essa estratégia reduz a visibilidade, mas não elimina a exposição. Além disso, segundo eles, a moderação automática não identifica nuances de contexto, o que dificulta o combate a conteúdos que romantizam práticas ilegais.
A empresa confirmou que removeu perfis, derrubou vídeos e bloqueou buscas específicas. Contudo, não explicou por que as variações ainda estão disponíveis. A plataforma apenas afirmou que analisará internamente a permanência dos termos.
Enquanto isso, especialistas alertam que esses conteúdos reforçam a naturalização do casamento infantil, proibido por lei no Brasil para menores de 16 anos. Portanto, a permanência de parte das publicações representa risco de exposição e de normalização de uma prática que viola direitos.
Os vídeos analisados apresentavam rotinas domésticas de adolescentes que diziam viver como esposas. Alguns mostravam meninas acordando antes do amanhecer para preparar refeições; outros mostravam cenas do cotidiano que imitavam relações adultas.
Após a reportagem, muitos desses conteúdos foram removidos. Entretanto, uma parcela permanece visível, ainda que sem legendas. Essa dinâmica mostra que o tema exige respostas mais amplas e contínuas.
Especialistas ressaltam que, além dos filtros automáticos, são necessárias equipes preparadas para avaliar situações complexas. Esse cuidado é fundamental porque usuários encontram maneiras de contornar bloqueios, substituindo letras por números ou criando novos códigos. Assim, a moderação precisa acompanhar essas mudanças e estabelecer estratégias que combinem tecnologia e análise humana.
O debate avança porque envolve não apenas segurança digital, mas também a forma como essas narrativas influenciam adolescentes. Ao apresentar o casamento infantil como algo natural, esses vídeos reforçam padrões que podem trazer consequências graves fora da internet. Por isso, plataformas e autoridades precisam agir de maneira coordenada.
A queda parcial das hashtags, embora relevante, não encerra o problema. O tema seguirá sob atenção, inclusive porque novos conteúdos continuam surgindo.
