A apreensão de um lote de “cocaína negra” em uma casa de alto padrão em Manaus revelou um método que tem preocupado investigadores. A Polícia Civil encontrou a droga camuflada de forma tão eficiente que passou ilesa por testes rápidos e também pelos cães farejadores usados na operação. O caso chamou atenção porque mostra uma mudança no padrão de adulteração usada por grupos que atuam na rota internacional do tráfico.
A descoberta ocorreu após dias de monitoramento de um imóvel na Ponta Negra. A equipe localizou primeiro 16 quilos da droga em sua versão comum.
No entanto, um caderno apreendido no endereço levantou suspeitas ao mencionar mais 40 quilos escondidos em móveis. Por causa dessas anotações, os agentes retornaram ao local com cães farejadores. Apesar disso, os animais não reagiram. A droga só foi localizada quando quadros e cadeiras foram desmontados, revelando fundos falsos usados para esconder a substância escurecida.
Perícia explica por que a droga não reage aos testes e não é detectada por cães
Os peritos observaram que a cocaína negra contém aditivos que alteram a estrutura química da pasta-base. Segundo a perita Midori Hiraoka, os traficantes usam carvão ativado e corantes para formar um composto que mascara o odor e impede a reação típica dos testes laboratoriais. Em condições normais, os reagentes aplicados na cocaína produzem uma coloração azul. No entanto, essa mudança não aparece quando a droga recebe as misturas utilizadas para criar a versão escura.
Além disso, a adulteração diminui o cheiro característico identificado pelos cães. A perita demonstrou o teste ao vivo e destacou que, mesmo com reagentes aplicados em laboratório, a amostra não apresentou qualquer alteração. Isso reforça a dificuldade de identificar esse tipo de produto em fiscalizações rotineiras.
Como resultado, o entorpecente se torna mais valioso no mercado ilegal. A polícia estima que a cocaína negra pode valer até dez vezes mais do que a versão comum. O Denarc informou que o lote apreendido em Manaus seguiria para a Austrália e chegou ao país pela tríplice fronteira, vindo do Peru.
A operação também prendeu dois caseiros que trabalhavam no imóvel. A defesa do casal afirmou que solicitou novos depoimentos, mas não comentou o conteúdo apreendido. A proprietária da casa, que é peruana e vive parte do tempo fora do Brasil, informou por nota que está à disposição das autoridades. Além disso, afirmou que o anexo onde a droga foi encontrada é usado exclusivamente pelos funcionários.
O caso abriu espaço para novas análises sobre como as rotas internacionais têm alterado métodos de camuflagem para escapar da fiscalização. As investigações continuam para identificar a origem exata da carga e os responsáveis pelo envio.
