O escritório britânico Pogust Goodhead, responsável pela ação coletiva bilionária do caso Mariana, vive uma crise interna que ameaça atrasar o pagamento das indenizações às vítimas.
Thomas Goodhead, advogado e fundador e ex-CEO da firma, foi afastado após acusações de uso indevido de recursos. Segundo o jornal The Times, ele teria utilizado parte do fundo de litígio para financiar viagens em jatos particulares, festas em iates e hospedagens de luxo no Brasil e no Uruguai.
Entre as despesas relatadas estão um voo de Vitória ao Rio de Janeiro, que custou 5.600 libras (R$ 39 mil), e uma festa privada avaliada em 5.300 libras (R$ 37 mil). Ex-funcionários disseram que eventos caros e viagens constantes faziam parte da rotina do escritório.
Posição do escritório
Goodhead nega as acusações. Ele afirma que todos os gastos foram pagos com empréstimos pessoais e que nenhum centavo do fundo foi usado. “Os financiadores sabiam de todas as minhas despesas. Não houve desvio de recursos dos clientes”, declarou. O advogado ainda afirma ter sido vítima de uma “tomada hostil de poder” dentro da empresa.
Após o afastamento, uma auditoria independente foi contratada. O relatório apontou gastos “excessivos e descontrolados” e revelou que as dívidas da Pogust Goodhead ultrapassam 500 milhões de libras. Esse cenário coloca em dúvida a estabilidade financeira da firma e o andamento do processo.
A ação movida em Londres pede 36 bilhões de libras (R$ 252 bilhões) de indenização contra a mineradora BHP, controladora da Samarco ao lado da Vale. O processo é financiado pelo fundo americano Gramercy, que aportou mais de US$ 550 milhões (R$ 3 bilhões) em 2023.
Goodhead afirma que a Gramercy tentou pressionar o escritório a aceitar um acordo com a BHP, no valor de US$ 1,4 bilhão, considerado baixo. A gestora nega interferência, mas a tensão entre advogados e investidores gerou dúvidas sobre a independência da firma.
Enquanto Londres debate acusações, as vítimas em Mariana continuam à espera. A tragédia, prestes a completar uma década, segue sem reparação definitiva. Cada novo impasse no exterior aumenta o medo de que o direito dos atingidos acabe comprometido por disputas financeiras e jogos de poder.
