Empresários do setor de combustíveis contaram ao Ministério Público que foram obrigados a vender seus negócios sob ameaça de morte. Os depoimentos revelam como integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) usavam postos para lavar bilhões de reais e intimidavam donos de estabelecimentos.
Uma das vítimas relatou a frase que ouviu antes de ceder: “Você vai vender o posto por bem ou por mal.”
A declaração foi feita ao Fantástico, que exibiu trechos de depoimentos inéditos.
As vítimas disseram que, além de não receberem o valor prometido, acabaram respondendo criminalmente por fraudes praticadas pela quadrilha. Um empresário contou que sua assinatura foi falsificada em contratos e que, até hoje, negocia com bancos para quitar dívidas deixadas pelo esquema.
Segundo ele, Alexandre Leal foi quem apareceu como comprador. Mais tarde, o posto teria sido repassado a Wilson Pereira Júnior, conhecido como “Wilsinho”. O Ministério Público afirma que Wilson era sócio de Flávio Silvério Siqueira, apontado como principal beneficiário da rede criminosa.
Em resposta ao g1, o advogado de Flávio Siqueira disse que o cliente “não tem contato com ninguém do PCC” e que a facção “mexe com crime e não com motéis ou outras empresas”. A defesa de Wilson afirmou que ele “não foi formalmente citado” e que qualquer esclarecimento será prestado às autoridades. Não foi possível contatar os advogados de Alexandre Leal.
Vítimas relatam intimidação e prejuízos
Um empresário contou que estava endividado quando aceitou vender seu posto. Ele só descobriu depois que os compradores eram ligados ao PCC. O pagamento não veio, e, ao tentar cancelar o contrato, passou a ser intimidado.
“Ele começou a falar: ‘É, tem pai matando o filho por causa de dinheiro. Tem filho matando o pai por causa de dinheiro. Se mata muito fácil por causa de dinheiro’”, relatou.
A quadrilha manteve o posto em nome do empresário e passou a vender combustível adulterado, tornando-o responsável legal.
“Essas pessoas eram vítimas até duas vezes. Primeiro, porque não recebiam e, depois, porque respondiam pelos crimes praticados”, disse o promotor Sílvio Loubeh.
Outros depoimentos mostram como os donos perderam sua fonte de renda. “Perdi meu ganha-pão. E aí, a gente fica desesperado”, disse um deles. Outro relatou: “Eu sabia que ia dançar financeiramente, que não ia ter mais vida para nada. Mas pelo menos eu toco minha vida.”