Demissões no Itaú expõem falta de transparência no monitoramento do home office

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By LatAm Reports Redatores da Equipe

Marcos* trabalhou quase dez anos no Itaú na área de tecnologia. Foi promovido, recebeu prêmios por desempenho e mantinha bom histórico. Ainda assim, acabou na lista de cortes realizada pelo banco nesta semana. O motivo: baixa produtividade no home office.

Segundo ele, a justificativa não convenceu. “Já trabalhei finais de semana, cheguei a ficar sete dias seguidos. Mesmo assim, alegaram falta de produtividade”, contou.

*Nome fictício, a pedido do entrevistado.

Monitoramento digital em debate

As demissões, estimadas em mais de mil pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, geraram polêmica. O Itaú afirma que parte dos funcionários trabalhava menos do que o registrado em suas plataformas internas.

O banco diz usar métricas como uso de teclado, mouse, tempo em softwares corporativos, chamadas de vídeo e até participação em cursos on-line. Mas Marcos afirma que nunca teve clareza sobre os critérios.

“Sabíamos que havia monitoramento, mas não que verificavam cliques, alt tab, scroll. Várias vezes almocei na frente do computador para não perder tempo”, relatou.

Cortes em massa e críticas

Segundo relatos, os desligamentos foram feitos sem aviso prévio ou feedback. “Rodou um facão. Quem estava na frente foi cortado”, disse Marcos. O sindicato classificou as medidas como “excessivas, desproporcionais e injustificáveis”.

A entidade alerta ainda para os riscos do monitoramento digital. “Práticas desse tipo podem gerar pressão excessiva, afetar a saúde mental e criar ambiente opressivo”, afirmou em nota.

Especialistas apontam falhas de transparência

Para o advogado Paulo Renato Fernandes da Silva, da FGV Direito Rio, a empresa tem o direito de fiscalizar. Porém, ressalta que o contrato deveria detalhar como isso será feito.

“É importante que os contratos expliquem o tipo de controle e que haja transparência com o trabalhador. Trata-se de um dever de boa fé”, afirmou.

Ele lembra que a lei permite demissões sem justificativa formal. Ainda assim, boas práticas incluem comunicação prévia, diálogo e até programas de capacitação antes do desligamento.

O que diz o banco

Em nota, o Itaú confirmou as demissões. Alegou que foram resultado de uma “revisão criteriosa” sobre condutas no trabalho remoto. Disse ainda que alguns padrões detectados eram incompatíveis com os princípios de confiança da instituição.

Segundo a empresa, o monitoramento tem respaldo em políticas internas e termos assinados pelos colaboradores. O banco reforçou que as decisões fazem parte de um “processo de gestão responsável”.