O brasileiro mal sentiu alívio no bolso com a redução recente do café e já pode preparar-se para novos reajustes. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), o produto deve ficar entre 10% e 15% mais caro nas próximas semanas.
Em agosto, o IBGE registrou queda de 2,17% no preço do café moído em relação a julho. Foi o segundo recuo seguido, reflexo do pico da colheita. Apesar disso, a indústria já paga mais caro pelo grão vindo do campo, o que pressiona o consumidor final.
A escalada dos preços
De acordo com a Abic, o quilo do café, que custava em média R$ 66,70 em junho, pode chegar a R$ 80. O aumento ocorre porque os valores nas fazendas voltaram a subir desde o início de agosto.
Entre os fatores que explicam a alta estão a tarifa de 50% imposta pelos EUA ao café brasileiro, os baixos estoques mundiais e a queda na produção nacional de arábica. Também pesaram as geadas no Cerrado Mineiro, que provocaram perdas de mais de 400 mil sacas.
Efeito do tarifaço
O mercado acreditava que o café ficaria de fora da lista de produtos atingidos pelo tarifaço, como aconteceu com o suco de laranja. Mas a decisão do governo Trump surpreendeu. Com o produto taxado, os preços dispararam na Bolsa de Nova York.
Para o analista Fernando Maximiliano, da StoneX Brasil, o impacto foi imediato. “O excedente que iria para os EUA agora será redirecionado para a Europa, já que outros países produtores preferirão abastecer o mercado americano”, explicou.
Estoques em baixa e clima adverso
O cenário mundial também pressiona. Estoques seguem reduzidos por quatro anos de safras prejudicadas em países como Brasil, Vietnã e Colômbia. “Só uma colheita grande nesses países traria alívio. Mas não será o caso do Brasil este ano”, disse Maximiliano.
A StoneX projeta queda de quase 19% na produção brasileira de arábica em 2025. Além do volume menor, os grãos vieram mais leves, exigindo maior quantidade para encher cada saca.
Do campo ao consumidor
Entre 2020 e 2024, secas e geadas já haviam castigado as lavouras. A saca do arábica passou de cerca de R$ 600 para R$ 2.500 no período. Agora, com nova pressão sobre os preços, a indústria deve repassar os custos ao consumidor.
“Sem o repasse, muitas empresas não conseguem se manter ativas. A consequência inevitável é o café mais caro no balcão”, resumiu Maximiliano.