Golpe da maquininha provoca prejuízo bilionário e se espalha pelo país

O golpe da maquininha, que simula corridas de táxi para aplicar fraudes com cartões, já causou um prejuízo estimado em R$ 4,8 bilhões no Brasil. A prática se tornou uma das mais comuns no país e integra o cenário de explosão dos crimes de estelionato, que cresceram mais de 400% em seis anos, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

O esquema envolve criminosos que se passam por taxistas. Eles usam maquininhas adulteradas para registrar senhas e trocar cartões das vítimas. Segundo a polícia, os golpes são rápidos, quase sempre acontecem durante o pagamento e usam distração como principal arma.

Criminosos se passam por motoristas e aplicam fraudes em segundos

Câmeras de segurança mostram o padrão: o carro estaciona, a vítima está distraída ou com pressa, e o falso motorista pede o pagamento com cartão físico. A maquininha, no entanto, foi modificada para capturar a senha. O golpista simula uma falha e troca o cartão original por outro, sem que o passageiro perceba.

Foi o que aconteceu com Nunzia Caruso, aposentada de São Paulo. Ela digitou a senha, confiando no motorista, e minutos depois recebeu uma notificação de uma compra de R$ 4.900. Ao tentar bloquear o cartão, percebeu que estava com o de outra pessoa. “Ele me deu um cartão que não era o meu. E ficou com o verdadeiro”, relatou.

O delegado André Figueiredo explica que o botão escondido na maquininha permite simular erro e exibir a senha digitada. Dessa forma, os criminosos conseguem cartão, senha e dados bancários em uma única ação. “Com isso, fazem compras de alto valor em nome da vítima”, afirmou.

As perdas podem chegar a R$ 17 mil por golpe. O Fórum estima que, em apenas 12 meses, esse tipo de fraude movimentou bilhões em prejuízos. Enquanto isso, crimes como roubo e furto caíram 51% no mesmo período.

O médico Thales Bretas, viúvo do humorista Paulo Gustavo, também foi vítima. Em um falso táxi no Rio de Janeiro, ele e uma amiga foram enganados. O criminoso usou uma maquininha sem visor e fez uma encenação para apressar o pagamento. A fraude só foi percebida após o recebimento do SMS de confirmação da compra. O valor: R$ 4.215.

Thales reconheceu o golpista após ver uma reportagem na TV. “Quando bati o olho na foto, era ele”, disse. O suspeito, Daniel de Souza Alves, foi preso em flagrante ao tentar aplicar o mesmo golpe em outra vítima e responde por estelionato.

Golpistas agem com rapidez e usam brechas tecnológicas

Especialistas alertam que a tecnologia, usada para facilitar a vida do consumidor, também está sendo usada para sofisticar os crimes. Há cursos ilegais, inclusive na internet, que ensinam como fraudar maquininhas e aplicar golpes com rapidez. “No mesmo dia em que surge uma tecnologia nova, já existe alguém buscando suas vulnerabilidades”, afirmou David Marques, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

A recomendação da polícia é clara: prefira táxis por aplicativo, que integram o pagamento na corrida. Outra alternativa é embarcar em pontos oficiais, com motoristas cadastrados. Além disso, sempre que possível, escolha pagar com Pix ou cartão por aproximação. Caso o motorista diga que o sistema está fora do ar, o alerta deve ser imediato.