O assassinato do brasileiro Jean Charles de Menezes completa 20 anos nesta segunda-feira (22). Morto com sete tiros na cabeça dentro de um vagão do metrô de Londres, em 2005, após ser confundido com um terrorista, o eletricista de 27 anos virou símbolo internacional de erro policial e de impunidade. Nenhum agente foi punido criminalmente pelo episódio.
Jean Charles havia saído de casa para trabalhar quando passou a ser seguido por agentes da Scotland Yard, que realizavam uma operação de vigilância após os atentados ocorridos no transporte público da cidade semanas antes. Ele morava no mesmo prédio de um suspeito foragido, e a confusão teve início a partir dessa coincidência.
Mesmo sem apresentar comportamento agressivo, o brasileiro foi abordado por policiais armados dentro do metrô. Dois deles efetuaram 11 disparos, sendo sete diretamente na cabeça. A ordem, segundo as diretrizes da época, era neutralizar qualquer suspeito que representasse risco de explosão.
Jean Charles, no entanto, não portava armas ou explosivos e havia pago sua passagem normalmente.
As investigações revelaram falhas graves na operação. Policiais envolvidos não haviam recebido fotografias nítidas do verdadeiro suspeito e interpretaram ações cotidianas do brasileiro, como mudar de estação de metrô, como tentativa de fuga. Inicialmente, a polícia divulgou versões falsas sobre o comportamento da vítima, incluindo a alegação de que ele teria pulado a catraca ou usado casaco volumoso, o que foi posteriormente desmentido.
O caso provocou protestos internacionais. No Reino Unido, familiares de Jean Charles e entidades civis cobraram responsabilização. A polícia londrina foi multada por falhas operacionais, mas o Ministério Público britânico decidiu não abrir processos contra os envolvidos. Em 2016, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos rejeitou recurso da família, mantendo a decisão.
A família Menezes, mesmo após duas décadas, segue atuando para manter o caso em evidência. Para os parentes do brasileiro, o caso jamais teve uma resposta proporcional à gravidade da ação.