A união de água, eletricidade e uma necessidade familiar deu origem a um dos itens mais presentes nos lares brasileiros: o chuveiro elétrico. A invenção surgiu por volta dos anos 1930, em Jaú (SP), pelas mãos do jovem Francisco Canhos. Na época, ele buscava uma solução prática para ajudar o pai, que sofria de reumatismo e precisava de banhos quentes com frequência.
Segundo relatos da família, Francisco montou o primeiro protótipo em sua oficina doméstica. Inspirado no funcionamento do ferro elétrico, ele percebeu que o calor gerado pela resistência poderia ser aproveitado para aquecer a água. Assim, criou o primeiro modelo de chuveiro elétrico rudimentar, que rapidamente começou a chamar atenção na cidade.
Da necessidade à inovação automatizada
Com o tempo, Canhos aprimorou a criação. O modelo original exigia que o usuário acionasse manualmente o aquecimento. Posteriormente, ele desenvolveu um sistema automático. O novo chuveiro acionava a resistência assim que a água passava por um diafragma interno — um avanço que marcou a indústria.
A invenção logo se espalhou. Embora fosse vendida de forma informal no início, passou a ser produzida em escala pela fábrica F. Canhos, também sediada em Jaú. O equipamento ganhou o país, tornando-se popular em razão da praticidade e do baixo custo.
Contudo, a patente foi perdida. Por descuido, ela não foi renovada a tempo. Anos depois, acabou sendo adquirida por empresas como a italiana Lorenzetti, que passou a produzir modelos baseados na criação original. A fábrica de Canhos funcionou até 2019, quando encerrou as atividades.
Por que o chuveiro elétrico faz tanto sucesso no Brasil?
De acordo com o professor José Alfredo Covolan Ulson, da Unesp de Bauru, o clima tropical e o hábito cultural de tomar banhos frequentes ajudaram na popularização do chuveiro elétrico. Além disso, seu custo acessível e eficiência energética foram determinantes.
Diferentemente de países europeus ou dos Estados Unidos, que utilizam sistemas centrais de aquecimento, o Brasil adotou uma abordagem descentralizada. Cada ponto de uso tem seu próprio aquecedor, o que economiza energia ao aquecer apenas a água necessária para o banho.
Como o aparelho funciona e por que não tomamos choque
O princípio do chuveiro elétrico é o chamado Efeito Joule. Nele, a corrente elétrica passa por um fio resistivo, gerando calor que aquece a água. No modelo brasileiro, essa resistência fica em contato direto com a água.
Apesar disso, não há risco de choque — desde que o aparelho esteja instalado corretamente. Isso ocorre porque tanto a água quanto a pessoa estão no mesmo potencial elétrico. Além disso, o fio terra direciona qualquer descarga para o solo, impedindo acidentes.
Por esse motivo, é obrigatório que o chuveiro tenha aterramento. O circuito elétrico é ativado por um sistema de diafragma, semelhante ao modelo automatizado criado por Canhos.
Vale destacar que, em países como os da União Europeia, chuveiros com resistência exposta são proibidos. Lá, a lei exige que a resistência seja blindada, sem contato direto com a água.