Apesar de ainda pesar no bolso dos consumidores, o preço do café começou a cair no campo. A reversão nas cotações teve início em março, com o avanço da colheita no Brasil. No entanto, o alívio nos supermercados ainda vai demorar.
Segundo o IPCA-15, divulgado nesta quinta-feira (26) pelo IBGE, o café moído foi o segundo item que mais impactou a inflação do mês — atrás apenas da energia elétrica. Em junho, o preço subiu 2,86% em relação a maio. No acumulado de 12 meses, a alta chegou a impressionantes 81,6%.
Enquanto isso, no campo, a média mensal da saca de café arábica caiu 17% desde fevereiro, quando atingiu o maior valor da série histórica do Cepea (Esalq/USP). A expectativa é que essa queda comece a se refletir nas prateleiras do varejo no segundo semestre.
Repasse ao consumidor será lento e gradual
Especialistas afirmam que, mesmo com a colheita avançando, o preço ao consumidor ainda seguirá alto. Isso ocorre porque existe um intervalo entre a colheita, o beneficiamento, a torra e a distribuição.
“A partir de 60 a 90 dias, podemos ver uma queda mais perceptível para o consumidor final”, explica Carlos Cogo, da Cogo Inteligência em Agronegócio. Contudo, ele alerta que os preços não devem voltar aos níveis de 2023 tão cedo.
Fernando Maximiliano, da StoneX Brasil, tem a mesma leitura. Segundo ele, a inflação do café deve cair mês a mês, mas ainda apresentará altas expressivas na comparação anual.
Além disso, os analistas estimam que a maior queda nas gôndolas deve ocorrer apenas em 2026. Isso, claro, se a próxima safra brasileira se confirmar robusta.
No campo, cotações caem com safra e demanda menor
A redução nos preços do campo começou em março, com o início da colheita brasileira. Ao mesmo tempo, os países do Sudeste Asiático — como Vietnã e Indonésia — indicaram recuperação de produção.
Outro fator relevante foi a queda no consumo interno, causada justamente pelo alto preço do produto. Com menor demanda, os preços tendem a ceder.
Segundo a Conab, a produção de café robusta deverá crescer 28% nesta safra, o que contribui para o recuo nas cotações. Isso se deve, em grande parte, ao uso de irrigação em lavouras no Espírito Santo e na Bahia.
Já o arábica teve perdas por conta da seca. Como esta já seria uma safra naturalmente menor, a expectativa é de queda de 6,6% na produção em relação ao ciclo anterior.
Por que o café disparou no início de 2025?
Em fevereiro, o preço do café arábica alcançou o pico histórico de R$ 2.769,45 por saca. Já o robusta atingiu R$ 2.102,12 em janeiro.
A explicação passa por vários fatores. Primeiro, o Brasil exportou volumes recordes em 2024 — mais de 50 milhões de sacas. Isso reduziu drasticamente os estoques internos.
Além disso, conflitos no Oriente Médio afetaram as rotas comerciais globais. Após ataques no Mar Vermelho, navios evitaram a passagem entre a Ásia e a Europa, o que aumentou a demanda europeia por café brasileiro.
Também houve uma corrida de importações por parte das empresas europeias no fim de 2024. Isso ocorreu por causa da expectativa de entrada em vigor de uma nova legislação ambiental, que limita a compra de produtos oriundos de áreas desmatadas. A lei, no entanto, foi adiada para o fim de 2025.
Por fim, como os preços futuros do grão estão abaixo dos valores atuais, as indústrias passaram a estocar menos — o que pressionou ainda mais o mercado físico.