Gripe aviária no Brasil: por que alguns países barram todo o frango e outros restringem só a região afetada

Desde a confirmação do primeiro foco de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul, o Brasil — maior exportador de carne de frango do planeta — enfrenta um cenário de apreensão no mercado internacional. Em apenas uma semana, mais de 20 países e blocos, como China e União Europeia, suspenderam a compra do produto brasileiro.

Embora não haja risco à saúde humana pelo consumo de carne de frango, muitos governos optam por adotar medidas preventivas drásticas. O temor principal é que o vírus se espalhe para seus próprios plantéis comerciais.

Nem todos, no entanto, seguem a mesma linha. Enquanto algumas nações impuseram um veto total ao frango vindo do Brasil, outras restringiram a importação apenas à região onde o surto foi detectado — como o município de Montenegro, no interior gaúcho.

Pressão por bloqueios mais específicos

O governo federal e entidades do setor têm atuado para convencer os parceiros comerciais a adotarem embargos regionalizados. A meta é evitar que o setor, essencial para a economia brasileira, sofra com um bloqueio generalizado que poderia ter sido evitado.

“Imagine tentar explicar para o consumidor chinês a diferença entre o Paraná e o Rio Grande do Sul. Para muitos, é tudo a mesma coisa. Precisamos mostrar que o Brasil é continental, com distâncias que superam as de muitos países inteiros”, explicou Ricardo Santin, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

No caso de Montenegro, por exemplo, há apenas um frigorífico autorizado a exportar. Ou seja, um bloqueio limitado à cidade praticamente não afeta o volume das exportações — ao contrário de uma suspensão nacional.

Por que o frango é barrado, mesmo sem risco de gripe aviária no consumo?

A gripe aviária não representa perigo à saúde humana por meio da ingestão da carne — especialmente quando cozida. O que está em jogo é a sanidade animal: países importadores querem evitar a entrada do vírus em seus territórios, onde o impacto econômico pode ser enorme.

A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) recomenda que a restrição seja aplicada apenas em um raio de 10 km ao redor da granja afetada. Mesmo assim, cada país tem autonomia para definir suas próprias regras — e muitos preferem bloquear tudo de forma imediata para só depois reavaliar.

Esses países esperam um relatório detalhado das autoridades sanitárias brasileiras antes de reabrirem os mercados. O documento inclui a situação atual, medidas de contenção adotadas e os desdobramentos do foco.

Segundo o governo e a ABPA, o Brasil conta com um dos sistemas sanitários mais rigorosos do mundo, estruturado pelo Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), criado em 1994. Esse controle ajudou a manter a gripe aviária longe das granjas comerciais por dois anos — mesmo após o vírus ter sido detectado em aves silvestres em 2023.

Agora, o desafio é mostrar isso ao mundo. Países como Japão e Arábia Saudita já aceitaram restringir as importações apenas ao município onde houve o foco. Emirados Árabes adotaram a sugestão da OMSA e bloquearam apenas frigoríficos situados no raio de 10 km da granja afetada.

Outros, como Coreia do Sul, China e México, ainda não aderiram à regionalização. Com a China liderando as compras de frango brasileiro, o governo intensificou esforços diplomáticos nos últimos dias.

“É preciso paciência. Em cinco dias não se muda uma política. Mas o Brasil está fazendo sua parte e vai propor a regionalização oficialmente em breve”, disse o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.