As exportações de carne bovina do Brasil para os EUA cresceram quase 500% em abril, mesmo após a imposição de novas tarifas pelo presidente Donald Trump. A forte demanda do mercado americano, aliada à queda histórica do rebanho bovino no país, fez com que os Estados Unidos comprassem 48 mil toneladas do produto brasileiro, contra apenas 8 mil no mesmo mês de 2024.
Segundo Roberto Perosa, presidente da Abiec, o salto nas vendas foi inesperado e se explica por uma combinação de fatores: os Estados Unidos enfrentam o menor nível de oferta de bois em 80 anos e, ao mesmo tempo, mantêm um altíssimo consumo interno de carne bovina. “Lá se consome hambúrguer todo dia. É como dizer que o brasileiro pare de comer arroz e feijão. Não tem como”, comparou Perosa.
Apesar do aumento de tarifas anunciado por Trump — que elevou de 26,4% para 36,4% a taxação sobre a carne fora da cota isenta —, a carne brasileira ainda custa bem menos do que a produzida nos EUA. Enquanto a arroba do boi gordo no Brasil custa cerca de US$ 55, nos EUA o valor gira entre US$ 115 e US$ 120. Ou seja, mesmo com o imposto extra, os americanos continuam importando porque ainda é vantajoso.
Atualmente, os EUA são o segundo maior destino da carne brasileira, atrás apenas da China. O Brasil participa de um grupo de 10 países que têm acesso a uma cota de exportação de 65 mil toneladas com tarifa zero. Contudo, essa cota costuma ser preenchida já no início do ano, o que leva os embarques seguintes a serem taxados.
Mesmo assim, o produto brasileiro tem se mostrado tão competitivo que continua entrando no mercado americano em grandes volumes.
De janeiro a abril, os EUA já compraram mais de 135 mil toneladas da nossa carne, quase cinco vezes mais que no mesmo período de 2024.
A Austrália continua como principal fornecedora dos americanos, mas atua em outro nicho: exporta carne pronta para consumo direto. O Brasil, por sua vez, fornece principalmente para a indústria de carne processada, como hambúrgueres e outros derivados.
Analistas projetam que a tendência de crescimento nas exportações deve continuar. A combinação entre a menor oferta doméstica nos EUA, o preço competitivo da carne brasileira e a cultura alimentar americana sustenta a alta. Mesmo com tensões comerciais, o Brasil “nada de braçada” nesse mercado, como define Fernando Henrique Iglesias, da Safras & Mercado.