Tráfico internacional em alto-mar: velejador brasileiro delata quadrilha que levava cocaína à Europa e África

Durante anos, ele navegou por mares gelados e chegou a fazer parte da equipe do renomado Amyr Klink. Mas, em 2021, o velejador brasileiro Flávio Fontes trocou as expedições pela rota do crime. Em troca de R$ 1 milhão, decidiu usar seu conhecimento técnico para transportar cocaína pelo Atlântico em pequenas embarcações.

A decisão deu início a uma das investigações mais complexas da Polícia Federal nos últimos anos, culminando na prisão de 26 envolvidos e na revelação de um esquema ousado de tráfico internacional.

Fontes foi preso em 2023 pela Marinha dos Estados Unidos, ao ser flagrado com três toneladas de droga a bordo do veleiro Lobo IV. Após a captura, ele optou por colaborar com as autoridades e revelou detalhes do funcionamento da quadrilha, que tinha como base a cidade de Santos (SP). A droga era preparada e armazenada em solo brasileiro, antes de ser embarcada em alto-mar rumo à África e à Europa.

A primeira viagem ocorreu em 2022, quando Flávio zarpou de Ilhabela em uma embarcação vazia. A carga foi transferida em águas internacionais por dois barcos menores. As coordenadas da entrega eram enviadas por telefone via satélite por Leandro Cordasso, um advogado de Limeira apontado como o principal contratante do esquema. Segundo a Polícia Federal, Leandro e Flávio mantiveram contato 179 vezes entre as duas travessias.

A droga da primeira viagem foi apreendida pela polícia espanhola nas Ilhas Canárias, mas Flávio conseguiu escapar. No entanto, na tentativa seguinte, foi capturado em flagrante e acabou delatando o grupo, que seria ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC).

Outro nome relevante nas investigações é Marco Aurélio de Souza, conhecido como “Lelinho”. Ele seria o responsável por coordenar a logística das operações, cuidando das embarcações e controlando empresas de fachada que mascaravam a movimentação criminosa. A defesa de Marco Aurélio nega qualquer envolvimento com o tráfico.

Também foi citado o contador Rodrigo Morgado, acusado de fornecer apoio financeiro e operacional à quadrilha. Em nota, ele disse estar à disposição das autoridades para comprovar a origem lícita dos seus recursos.

Flávio Fontes, agora detido em um presídio na Flórida, teve a pena reduzida por colaborar com a Justiça. Segundo a Polícia Federal, as investigações continuam para rastrear outras rotas e conexões internacionais que possam estar ligadas ao grupo.