A tragédia que tirou a vida da pequena Sarah, de apenas 10 anos, no Distrito Federal, escancarou mais uma vez os perigos silenciosos que espreitam nas redes sociais. A menina morreu após participar de supostos desafios online, prática cada vez mais comum entre crianças e adolescentes em busca de aceitação ou por pura curiosidade — e que pode ter consequências fatais.
Sarah havia saído da escola e foi para a casa do avô, em Ceilândia. Pouco tempo depois, a família recebeu uma mensagem desesperada: a menina estava passando mal. Três dias depois, ela não resistiu. A mãe, Maria Fabiana Pereira Brandão, tenta encontrar respostas.
“A gente só não sabe o vídeo que ela viu. Mas ela esperou o momento certo para tentar fazer. Ficou com aquilo na cabeça”, desabafou.
A polícia investiga os vídeos acessados por Sarah e trabalha para identificar os responsáveis por esse tipo de conteúdo, cada vez mais comum nas plataformas digitais.
O laudo que pode ajudar a esclarecer o caso deve ser divulgado ainda esta semana.
Esse, infelizmente, não é um caso isolado. Segundo levantamento do Fantástico, ao menos dez outras mortes semelhantes foram registradas nos últimos anos no Brasil, todas com suspeita de ligação com desafios virtuais. Em muitos casos, sem provas suficientes, as investigações acabaram arquivadas, classificadas como suicídio ou acidentes domésticos. Apenas quatro crianças conseguiram sobreviver aos desafios online — e, novamente, sem responsabilização para os autores dos conteúdos.
Enquanto isso, os crimes online seguem crescendo. Só em 2024, o Ministério da Justiça registrou mais de mil operações em parceria com as polícias civis para desarticular quadrilhas que disseminam conteúdos criminosos, como pornografia infantil, incitação ao ódio e até tentativas de homicídio, todos com alvos infantis.
No centro dessa luta está o Instituto DimiCuida, fundado em 2014 após a morte do filho de Demetrio Jereissati, vítima do “desafio do desmaio”. Desde então, a entidade já catalogou 56 casos de mortes ligadas a esse tipo de prática no Brasil. O instituto alerta que o desconhecimento dos pais sobre a existência desses conteúdos é um dos principais fatores de risco.
“A prevenção começa pelo conhecimento. É isso que falta aos adultos: saber que isso existe, que é real e que pode estar ao alcance de qualquer criança com um celular nas mãos”, afirma Jereissati.
Os desafios variam, mas têm em comum o estímulo a comportamentos perigosos: sufocamento, automutilação e agressões físicas. Muitos vídeos circulam em plataformas populares entre os jovens, mascarados como “brincadeiras” ou “testes de coragem”, o que dificulta a moderação e a identificação pelas autoridades.
A tragédia de Sarah reacende o debate sobre o papel das redes sociais, a responsabilidade das plataformas e, principalmente, a necessidade urgente de conscientização por parte das famílias. Em tempos em que o conteúdo viral ultrapassa qualquer limite, proteger nossas crianças vai muito além de instalar um antivírus.