Com as negociações com os Estados Unidos em ritmo lento após o tarifaço imposto por Donald Trump, o Brasil tem intensificado sua agenda comercial com outros parceiros estratégicos. A movimentação envolve países do Brics, a China e nações da União Europeia, numa tentativa de reduzir a dependência de Washington e abrir novas frentes para o agronegócio e a indústria nacional.
Nesta quarta-feira, 16, o Ministério da Agricultura se reúne com a vice-ministra da Receita e Fiscalização Sanitária da China para discutir avanços no comércio bilateral. O encontro ocorre em meio a uma série de reações do governo chinês às medidas protecionistas de Trump, como a recente proibição da entrega de jatos da Boeing no país asiático.
O Brasil, que atualmente preside o Brics, também organiza nesta quinta, 17, uma reunião preparatória com os ministérios da Agricultura dos países do grupo, em Brasília. A cúpula final está prevista para acontecer ainda este ano em solo brasileiro. A intenção é aproveitar o momento político para consolidar novas alianças comerciais.
Acordo com a União Europeia também está na mira no Brasil
Na próxima semana, uma missão diplomática brasileira embarca para a Europa com o objetivo de acelerar as negociações entre Mercosul e União Europeia, que há anos caminham entre avanços e impasses. A expectativa é que, com a pressão externa vinda dos Estados Unidos, os europeus estejam mais receptivos a concluir o tratado.
“Não estamos satisfeitos com o que está acontecendo com os Estados Unidos, mas não podemos ficar parados. Novas oportunidades estão surgindo e precisamos aproveitá-las”, declarou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
As conversas entre Brasília e Washington, por ora, se concentram no setor de aço e alumínio. O governo Lula busca retomar o modelo de cotas de exportação sem tarifas, que vigorava antes da nova taxação imposta por Trump — atualmente em 25%.
Segundo fontes do Itamaraty, a equipe técnica americana tem recebido bem os argumentos brasileiros nesse setor específico, sinalizando uma possível flexibilização futura. No entanto, o cenário é mais nebuloso quando se trata da tarifa de 10% que atinge todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. Esse ponto sequer entrou oficialmente na mesa de negociações.
Há uma percepção dentro do governo brasileiro de que nem mesmo os técnicos norte-americanos têm clareza sobre os desdobramentos da medida, o que dificulta o avanço imediato das tratativas.
Diante desse quadro, o Brasil busca protagonismo em outras frentes, apostando no fortalecimento das relações comerciais com blocos e países que demonstram maior disposição para o diálogo. A estratégia pode não apenas aliviar os impactos das barreiras impostas por Washington, como também abrir espaço para uma nova etapa nas relações econômicas internacionais do país.