O governo brasileiro confirmou a nomeação do diplomata André Aranha Corrêa do Lago como presidente da COP30, a conferência climática da ONU que será realizada em novembro, na cidade de Belém, no coração da Amazônia. Veterano nas negociações ambientais, Corrêa do Lago já ocupou o cargo de principal negociador climático do Brasil entre 2011 e 2013 e retomou essa função em 2023, quando o presidente Lula reassumiu o governo.
Experiencia do diplomata
Além de sua experiência na diplomacia climática, Corrêa do Lago já representou o Brasil como embaixador na Índia e no Japão. Sua indicação foi amplamente elogiada por ambientalistas e especialistas no setor, que destacam seu profundo conhecimento sobre o processo multilateral de negociações climáticas.
No entanto, o caminho até a COP30 será desafiador. Cláudio Angelo, chefe de políticas internacionais do Observatório do Clima, afirmou que a escolha do governo foi acertada, mas destacou que Corrêa do Lago precisará de total apoio de Lula para impulsionar as negociações. “Será o ano mais desafiador para a diplomacia climática”, ressaltou.
A liderança da COP30 também carrega um simbolismo importante. Corrêa do Lago será o primeiro presidente da cúpula climática da ONU em três anos sem ligações diretas com a indústria de combustíveis fósseis. Seus dois antecessores, Sultan Al-Jaber (COP28) e Mukhtar Babayev (COP29), vieram do setor de petróleo e gás, o que gerou críticas sobre conflitos de interesse nas negociações.
Papel dos povos indígenas e a pressão por financiamento climático
A nomeação foi recebida com cautela por lideranças indígenas. Toya Manchineri, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), afirmou que o nome de Corrêa do Lago representa um avanço, mas que a centralidade dos povos indígenas no debate climático ainda não está garantida.
“Uma COP na Amazônia precisa colocar nossa voz no centro do debate”, afirmou.
Outro desafio será o financiamento climático. A COP30 acontecerá em um momento decisivo para a implementação do novo fundo global para adaptação e transição energética. Em dezembro, os países ricos concordaram em destinar pelo menos US$ 300 bilhões anuais até 2035 para ajudar nações em desenvolvimento a enfrentar os impactos da mudança climática. Um valor ainda maior, US$ 1,3 trilhão ao ano, foi sugerido para escalar investimentos privados na transição energética, mas sem detalhes sobre como isso será implementado.
Corrêa do Lago já sinalizou que pretende pressionar os países ricos para cumprir as promessas financeiras feitas em cúpulas anteriores.
“Quando falamos de metas e compromissos, há uma grande sensação de urgência. Mas quando falamos de financiamento, essa urgência desaparece”, disse ele em evento recente.
A COP30 será também a primeira grande conferência do clima após a revisão dos compromissos nacionais de redução de emissões, os chamados NDCs. O Brasil já apresentou sua nova meta, que prevê cortar entre 59% e 67% das emissões até 2035, com forte dependência da conservação das florestas.
O governo Lula defende que a meta está alinhada com o Acordo de Paris e a limitação do aquecimento global a 1,5°C. No entanto, especialistas alertam que a política ambiental brasileira ainda enfrenta contradições, especialmente devido à expansão planejada da exploração de combustíveis fósseis no país.
Além disso, a conferência será um teste para a capacidade do Brasil de liderar as negociações sobre a transição energética global. O tema central da COP30 será a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e o fortalecimento das metas de adaptação climática, duas pautas que historicamente geram embates entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Rumo a Belém: um ano de negociações intensas
A escolha de Belém como sede da COP30 já coloca a Amazônia no centro do debate climático global. A cidade será palco das discussões sobre o futuro das políticas ambientais e da resposta internacional à crise climática.
O Brasil espera que a conferência traga acordos concretos para o financiamento climático e a preservação das florestas tropicais, fundamentais para conter o aquecimento global. No entanto, com um cenário diplomático complexo e interesses divergentes, o papel de Corrêa do Lago será decisivo para transformar expectativas em resultados concretos.