O Brasil enfrenta um crescimento alarmante nos desastres climáticos, com um aumento de 460% no número de eventos desde a década de 1990. De acordo com um estudo inédito, cada aumento de 0,1°C na temperatura média global do ar está associado a 360 novos eventos climáticos extremos no país, resultando em prejuízos que chegam a R$ 5,6 bilhões (cerca de US$ 970 milhões). As informações são da Mongabay.
O processo de aquecimento global se intensificou na última década, com o Brasil registrando, em média, 4.077 desastres climáticos por ano, comparado a 725 eventos anuais na década de 1990. Entre 1991 e 2023, foram contabilizados 64.280 desastres em 5.117 municípios brasileiros, afetando mais de 219 milhões de pessoas, sendo 78 milhões somente nos últimos quatro anos.
Esses eventos incluem secas, enchentes e tempestades, com as secas representando metade dos desastres registrados. As enchentes e chuvas torrenciais correspondem a 27% e as tempestades a 19% do total. O estudo, intitulado 2024 – O Ano Mais Quente da História, foi conduzido pela Aliança Brasileira pela Alfabetização Oceânica, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, e a UNESCO.
Prejuízos econômicos crescentes
Os prejuízos econômicos relacionados aos desastres climáticos também aumentaram significativamente ao longo das décadas. Entre 1995 e 2023, o Brasil acumulou perdas de R$ 547,2 bilhões (US$ 94,8 bilhões). Desde 2020, a média anual de perdas é de R$ 47 bilhões (US$ 8,14 bilhões), mais que o dobro da média registrada na década anterior.
Apesar do aumento dos desastres, o orçamento federal destinado à gestão de riscos e desastres foi reduzido anualmente entre 2012 e 2023, com cortes médios de R$ 200 milhões (US$ 34,6 milhões) por ano. O orçamento para 2025 segue essa tendência, com R$ 1,7 bilhão (US$ 294,6 milhões) alocados para a área, conforme reportado pela Mongabay.
Papel dos oceanos e o agravamento do El Niño
O estudo destaca a relação direta entre as mudanças climáticas e o aquecimento dos oceanos. A elevação da temperatura da superfície oceânica resultou em 584 novos desastres climáticos no Brasil. O fenômeno El Niño, que normalmente aquece as águas do Pacífico, tem sido intensificado pelo aquecimento global, agravando os impactos climáticos em todo o mundo, incluindo o aumento das secas e incêndios na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal.
“Ao entender como o crescimento urbano e o uso dos recursos naturais impactam o ambiente, percebemos como as pessoas estão sofrendo com as mudanças climáticas”, afirmou Aline Martinez, pesquisadora da UNIFESP e coordenadora do estudo.
Os pesquisadores enfatizam a necessidade urgente de medidas para mitigar os impactos da crise climática. Reduzir as emissões de gases do efeito estufa é uma das principais estratégias recomendadas. Além disso, o estudo sugere o desenvolvimento de planos de adaptação climática e o investimento em soluções baseadas na natureza, como a preservação de florestas, manguezais e recifes de corais.
Carlos Nobre, climatologista consultado pela Mongabay, alertou que, se as emissões de carbono não forem reduzidas rapidamente, o mundo poderá ultrapassar o limite de 1,5°C estabelecido pelo Acordo de Paris antes de 2050, o que poderia levar a consequências irreversíveis para a biodiversidade e a sobrevivência humana.
O estudo faz parte da série Brasil em Transformação: O Impacto da Crise Climática, que continuará a ser publicada ao longo de 2025, abordando diferentes categorias de desastres climáticos e possíveis soluções para enfrentar a crise.