O governo brasileiro anunciou nesta terça-feira, 28, a criação de um centro de recepção para migrantes deportados dos Estados Unidos, após a repercussão negativa das condições em um voo recente.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou a instalação de um posto humanitário em Confins, município de Minas Gerais, segundo a ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo. A decisão foi tomada diante da possibilidade de novos voos de deportação sob o governo Trump, que assumiu em 20 de janeiro. No último fim de semana, 88 brasileiros chegaram ao país em um voo do governo norte-americano, o primeiro sob a nova administração.
O episódio gerou indignação no governo brasileiro, especialmente após relatos de que os deportados permaneceram algemados após um pouso de emergência em Manaus devido a problemas técnicos na aeronave. Uma aeronave militar brasileira foi acionada para concluir o transporte dos passageiros até Belo Horizonte.
No domingo, o Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota cobrando explicações de Washington sobre o “tratamento degradante” dos brasileiros a bordo. O governo citou o uso de algemas e correntes, além das más condições do avião, que apresentava problemas no sistema de ar-condicionado.
Nem a Embaixada dos Estados Unidos nem o Serviço de Imigração e Controle de Alfândega (ICE) responderam aos questionamentos sobre o caso. Não está claro se os 88 deportados foram detidos ainda sob a gestão de Joe Biden ou já durante o mandato de Donald Trump.
Reações e medidas do governo brasileiro
Nos últimos três anos, quase 50 voos de deportação foram enviados dos EUA para o Brasil. Apesar das críticas, o governo brasileiro não pretende interromper o processo e já iniciou diálogos com representantes diplomáticos americanos.
O Brasil permite o uso de algemas em circunstâncias excepcionais, mas exige que haja uma avaliação de risco. Autoridades investigam quantos deportados foram algemados no voo e analisam relatos sobre o calor extremo na cabine, que teria levado passageiros a saírem pela porta de emergência ao pousar em Manaus.
A criação do centro de recepção tem como objetivo oferecer condições dignas para os deportados, incluindo acesso a água, alimentação e um ambiente adequado, segundo a ministra Macaé Evaristo. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, reforçou a necessidade de respeito aos brasileiros.
“Não queremos provocar o governo americano, mas é essencial que os deportados sejam tratados com dignidade”, afirmou Lewandowski.