Brasileiros nos EUA enfrentam medo e mudanças na rotina com nova política de deportação

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By LatAm Reports Redatores da Equipe

O endurecimento das políticas de deportação nos EUA está impacta o dia a dia da comunidade brasileira no país. Igrejas esvaziadas, mercados menos movimentados e grupos de WhatsApp repletos de alertas são algumas das mudanças observadas desde que o presidente Donald Trump assumiu o cargo em 20 de janeiro.

O influenciador mineiro Junior Pena, popular entre brasileiros imigrantes nos EUA, relata que tem recebido inúmeros relatos de famílias assustadas. Muitos passaram a evitar sair de casa e cogitam retornar ao Brasil diante da intensificação das operações de imigração.

Desde sua posse, Trump assinou mais de 21 ordens executivas relacionadas à imigração, facilitando a deportação de migrantes sem documentos. Entre as novas regras, está a liberação de detenções em igrejas, escolas e clínicas, locais anteriormente considerados seguros. Além disso, agentes federais receberam autorização para participar das operações, ampliando o cerco contra imigrantes irregulares.

Embora o governo afirme que as ações se concentram em criminosos, brasileiros sem antecedentes também estão sendo detidos. O prefeito de Newark, Ras Baraka, denunciou que agentes do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega) invadiram um estabelecimento local e prenderam tanto imigrantes sem documentos quanto cidadãos americanos, sem apresentar mandado.

A tensão aumentou ainda mais após relatos de abusos contra brasileiros deportados em voos recentes. Muitas famílias passaram a evitar locais frequentados por imigrantes, temendo serem pegas no que as autoridades chamam de “dano colateral” — quando imigrantes sem documentos são levados junto aos alvos principais da operação.

Comunidade vive sob tensão

O medo de estar “no lugar errado, na hora errada” domina as conversas entre imigrantes brasileiros. Advogados recomendam evitar aglomerações, como festas e igrejas, e até mesmo dirigir com extrema cautela para não chamar atenção das autoridades.

O impacto se estende a pessoas com documentação regular. Fernanda, estudante de teologia em Massachusetts, relata que diminuiu suas idas à igreja. “Nunca sabemos o que pode acontecer”, afirma. Igrejas evangélicas têm visto uma queda significativa na frequência de fiéis, refletindo o clima de insegurança.

Pastores evitam comentar publicamente sobre a crise migratória, mas reconhecem a preocupação entre os fiéis. Um líder religioso em Orlando afirmou que não incentiva a imigração irregular, mas admite que muitos de seus frequentadores vivem sob forte medo da deportação.

“Dias de terror psicológico”

Junior Pena descreve os primeiros dias do novo governo como um “terror psicológico” para os imigrantes brasileiros. Ele mesmo, que vive nos EUA há 15 anos sem documentos, cancelou uma viagem ao Alasca por medo de embarcar em um voo doméstico.

Grupos de WhatsApp fervilham com alertas de blitzes e operações do ICE, embora muitos desses relatos não sejam confirmados. Para alguns imigrantes, o pânico gerado pela incerteza é tão prejudicial quanto as medidas do governo.

Apesar da tensão, há quem acredite que o cenário se estabilizará em alguns meses. “Depois de uns 100 dias, tudo volta ao normal”, afirma Ricardo, que tenta regularizar sua situação migratória.

Outros, no entanto, não querem esperar. “Estou por um triz de pegar meus filhos e voltar ao Brasil“, desabafa uma brasileira em Massachusetts. O medo de ser detido e deportado está levando muitas famílias a reconsiderar seu futuro nos Estados Unidos.